Porto Rico. Por Elaine Tavares.

Porto Rico
Foto: manifestação de julho de 2019. Divulgação, via Elaine Tavares.
As grandes manifestações populares que aconteceram em Porto Rico no ano passado, depois de serem divulgadas gravações do governador, nas quais ele dizia coisas ofensivas referentes a políticos, artistas e população em geral, foram decisivas para o que aconteceu nas eleições desse ano. Os áudios do governador e mais o desvelamento de atos de corrupção foram o estopim para que milhares de pessoas saíssem às ruas em protestos que duraram dias. A ilha ainda padecia dos estragos causados pelo furacão Maria, que passara em 2017, devastando tudo e matando mais de 4.500 pessoas. Toda a paciência se havia esgotado. Artistas famosos como Ricky Martin e Renê Residente chegaram a comandar passeatas massivas. Porto Rico gritava por mudança.

Agora em novembro a ilha – que é ainda uma colônia dos Estados Unidos – passou por eleições para escolher o governador e o legislativo. Como já era esperado houve um avanço bastante significativo das forças mais progressistas, com a população fugindo dos partidos tradicionais, o Partido Democrático Popular (PPD) e o Partido Novo Progressistas (PNP). Ainda que o candidato do PNP, Piero Pierluise, vença para o cargo de governador – os votos ainda não se contaram todos – pode ser que a capital San Juan passe para as mãos do Movimento Vitória Cidadã. Não bastasse isso uma parcela bem significativa do legislativo terá a presença dos novos partidos que surgiram no rastro das grandes manifestações, tais como o Movimento Vitória Cidadã que, inclusive, passou o Partido Independentista na contagem geral para governador, e o Projeto Dignidade. Tanto o Vitória Cidadã quanto o Dignidade nasceram com a palavra de ordem “contra a corrupção”, a partir da voz das ruas. Se colocam na linha do progressismo, mas sem apontar grandes mudanças estruturais. O Dignidade, de corte religioso, promete crescer.

Como Porto Rico é, em tese, um estado dos Estados Unidos, a eleição lá também segue as mesmas regras e por isso mesmo a demora no resultado. Hoje, dia 13 de novembro, ainda não se sabe quem vai governar a capital San Juan, e essa é uma batalha que está sendo travada com muita expectativa por parte da população. Até agora o Movimento Vitória Cidadã está na frente e uma vitória na capital poderá ser histórica, mostrando para a população que a luta nas ruas pode mesmo trazer mudanças.

O Partido Independentista, formado no ano 2000 e que tem uma proposta mais radical para Porto Rico, que é justamente a sua real soberania, também cresceu bastante e teve esse ano a sua melhor performance eleitoral. Isso é considerado igualmente positivo porque até então os independentistas eram um grupo considerado isolado e anacrônico. A luta nas ruas trouxe de volta o grito de liberdade.

Os jornais de Porto Rico reportam várias denúncias de fraude e a contagem dos votos segue muito lentamente. Ainda não é possível saber quem venceu realmente para governador e para a alcadia de San Juan. A votação está bastante apertada e cada voto conta. De qualquer maneira, ainda que vençam os partidos tradicionais, a ascensão dos demais partidos e sua presença no legislativo vai mudar a forma de fazer política na ilha.

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Elaine Tavares é jornalista.

 

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