Por quê Trump tentou se segurar na presidência? Por Marcos Ferreira

Foto: Fayerwayer

Por Marcos Ferreira, para Desacato.info

O mundo continua pasmo com a postura do presidente dos Estados Unidos frente aos resultados das eleições. Parece que ele está fora de si, fazendo papel infantil, descolado de qualquer pudor inerente ao cargo que ocupa. Parece uma antiga música brasileira, com Trump dizendo: “daqui não saio, daqui ninguém me tira!”

É preciso compreender esse comportamento no contexto do processo de falsificações que o levaram à presidência. Ele sabe que o conjunto de sua obra é uma falsificação. Sabe que não conta com base de sustentação social para seu projeto de desmonte das organizações multilaterais como a OMS e o acordo de Paris. Ele sabe que é extremamente improvável que os estadunidenses vão se atirar em uma guerra civil para mantê-lo presidente ou para garantir a continuidade de um projeto de retirada de direitos e privilégios dos mais ricos. Ele sabe que precisa continuar contando com o aparato presidencial para levar adiante a irracionalidade que marca seu governo.

(Notemos que todos os impropérios e propostas de Trump desde o momento eleitoral foram ditos por ele na condição de presidente dos Estados Unidos. Ele fala essas coisas na sala de imprensa da Casa Branca. Utilizou espaços oficiais para tratar dos seus interesses de candidato e agora faz isso no papel de impostor. Até a tentativa de dizer que já havia ganhado a eleição e as apurações deviam ser interrompidas foi feita na condição de presidente. Ele se comporta como um rei francês que quer nos fazer crer que ele é a encarnação do estado. Em nenhum momento ele teve o cuidado de falar como candidato e agora não fala como querelante. Antes, mandou cercar a sede do governo com grades que lembram paliçadas, como se as ameaças estivessem do lado de fora da sede do governo. Agora facilita a entrada dos proud boys ao espaço presidencial).

Retomo: a falsificação que levou Trump à presidência já foi amplamente denunciada, embora nunca reconhecida de forma cabal nem pela imprensa, nem pelos governos nacionais, nem pelos organismos multilaterais. Depois de gigantesca expropriação da intimidade e privacidade dos estadunidenses, depois do uso de um método de propaganda enganador e potente exatamente por ser desconhecido pelos cidadãos, depois do uso sem precedentes de conhecimento da Psicologia na busca de criar reações de recorte emocional nos cidadãos, Trump conseguiu chegar a um posto a que não teria acesso por via do debate democrático e esclarecido.

Vale a pena chamar a atenção da imprensa como coadjuvante de do Presidente golpista. Fazer uma chamada referindo como “invasão” do Capitólio o ingresso sem resistência séria dos amigos de Trump é um acinte. São convidados do golpista. Antes da eleição ele já tinha dado uma ordem: stand by! O acinte prossegue quando a imprensa refere a tentativa de golpe como cobrança de fidelidade do Vice Presidente Pence.

Essa falsificação do jornalismo no passado e no presente teve e tem conseqüências que ainda não conseguimos avaliar. Por que não dar o nome de golpe ao que é um golpe? Medo de que seja reconhecida a identidade com o ocorrido no Brasil sob o olhar sorridente da chamada grande imprensa?

Cuidado, o modelo que esse impostor deixa para o mundo poderá ecoar no Brasil dentro de pouco tempo.

 

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