Por que o Teleférico TICEN / UFSC é péssimo para Florianópolis

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    Pelo Prof. Werner Kraus Junior.*

    A Prefeitura de Florianópolis (PMF) quer fazer um teleférico ligando a região do TICEN com a Praça Santos Dumont, perto da UFSC.  Não é uma boa ideia, e a cidade vai amargar um prejuízo de R$ 30 milhões por ano em subsídio para manter o teleférico operando. É muito dinheiro!

    E por que não vale a pena?  Eis as razões:

    Estação do Morro da Cruz vai ser de difícil acesso. A única estação do Maciço ficaria no Alto da Caieira, acima da Serrinha. Só uma parcela muito pequena da população do Maciço que mora perto ao local seria beneficiada. A Prefeitura diz que vai ter van para transportar até a estação, mas isso é absurdo: basta que as vans transportem direto as pessoas à Trindade, Saco dos Limões e Centro, não leva mais que 10 minutos!  
    É muito caro!  Um teleférico parecido custou R$ 210 milhões em 2010, no Rio de Janeiro. A Prefeitura diz que faz por R$ 150 milhões. É duro de acreditar, mas vá lá. Se for isso, só de prestação do empréstimo vai dar R$ 12 milhões (!!) por ano. Ainda tem que pagar o pessoal que trabalha no teleférico, a conta de luz, e a manutenção.  Por isso é que o subsídio teria que ser de R$ 30 milhões. Naquele do Rio de Janeiro, é R$ 37 milhões por ano. Com esse dinheiro, dava para fazer muita praça, mais corredores exclusivos para ônibus e túneis para agilizar o transporte coletivo.
    Transporta pouca gente. Para comparar, 12 ônibus grandes (como tem em Curitiba) transportam o mesmo número de passageiros. Como vai ter corredor exclusivo para ônibus no mesmo trajeto, basta comprá-los a um preço de menos de R$ 1 milhão cada.  Quer dizer, com menos de R$ 12 milhões a gente tem transporte garantido, rápido e barato!
    Passagem é cara.  Se os passageiros forem pagar pelo custo do teleférico, o preço da passagem seria de 10 reais por viagem. Isso se tiver 10 mil passageiros por dia durante 300 dias do ano, que é muito difícil de acontecer. Se menos gente usar, vai ficar ainda mais caro.
    Turistas não conseguem pagar a conta. A Prefeitura imagina que turistas possam ajudar a pagar a conta. Isso não é verdade.  Precisaria 1 milhão de turistas por ano pagando R$ 30 de passagem para pagar o custo do brinquedo. É impossível, isso é mais que o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro. E quem vai pagar R$ 30 reais para um percurso que dá para fazer de carro? Em Portugal tentaram, e poucos usam (na cidade do Porto, no norte do país).
    Vai parar quando der mau tempo. Em dia de vento forte ou trovoada, o teleférico tem que parar. Mas o pessoal que estivesse dependendo dele para ir a algum lugar vai precisar de ônibus.  Ou seja, tem que ter mais ônibus do que o necessário só para acudir as paradas do teleférico, e isso é custo a mais que nós vamos ter que pagar!
    Desperdício de energia. Sendo elétrico, o teleférico pode dar a impressão de eficiência ecológica. Mas para mover pessoas e cabines do Centro à Trindade, que ficam perto do nível do mar, o projeto prevê elevá-las a 190 m de altura no ponto mais alto da travessia. Isto é, cerca de 900 toneladas por dia serão elevadas àquela altitude sem necessidade, pois há caminhos que contornam o Maciço do Morro da Cruz sem grandes desníveis.
    Difícil integrar com o ônibus. No centro, a estação do teleférico ficaria afastada do TICEN, então as pessoas que vem de ônibus de outros pontos da região metropolitana não vão caminhar até lá. Pior ainda, o custo da tarifa é muito diferente entre um modo e outro, então haveria pouca gente a fim de fazer a troca.

    Destruição de espaços públicos

    Pelo menos dois espaços públicos já estariam condenados se o teleférico fosse feito:
    a) a Praça Santos Dumont, na Trindade:  local de instalação de uma das estações. A comunidade do bairro estava feliz de ter conseguido, via programa “Prefeitura no Bairro” da PMF, um aporte de cerca de R$ 1 milhão para reforma da praça, antiga reivindicação dos moradores. Para surpresa destes, a mesma PMF agora anuncia a estação no meio do local;
    b) terreno vizinho à Escola Dom José Jacinto Cardoso, no bairro Serrinha:  Ali, a comunidade escolar sonhava em ver construída uma ampliação da escola mas a proposta da PMF é colocar ali uma das torres de sustentação do teleférico.
    E isso não é tudo. Tem mais razões ainda por que não se deve fazer essa obra. Teleférico é bom para lugares onde tem muito turista que topa pagar caro pelo passeio. Ou então em lugares com população muito grande vivendo em local sem acesso por estrada (na Colômbia e na Bolívia tem projetos desse tipo). Mas nada disso acontece aqui.

    Enfim, o dinheiro desse projeto tem que ser usado para obras que tragam melhorias de verdade para as pessoas.  É um verdadeiro “Cavalo de Troia” cuja conta a prefeitura quer deixar para nós pagarmos.

    * Depto. de Automação e Sistemas – UFSC.

    Artigo enviado pelo Comitê de Luta pelo Transporte Público.

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