De tempos em tempos surge na ALESC proposição de mudança do Hino de SC. Nos últimos 20 anos, esta é a terceira tentativa, sendo que as duas anteriores foram arquivadas. E dessa vez não será diferente, pois acredito que os parlamentares saberão respeitar a história desse símbolo. Três são os símbolos de SC: o Brasão, a Bandeira e o Hino, que compõem um conjunto histórico da vida social barriga-verde. A tentativa de alterar qualquer um deles consolidará o apagamento da história política e social de um povo. É preciso respeitar o contexto histórico em que estes símbolos foram constituídos e institucionalizados.
Criado em 1892 e sancionado pela Lei n.º 144 de 1895, tem letra de Horácio Nunes Pires e música de José Brazilício de Souza. É considerado um dos mais belos na sua composição, e elogiado por diversos especialistas, entre os quais Francisco Braga, que musicou o Hino à Bandeira.
Dentre as alegações levantadas pelos poucos defensores da ideia, de que “o povo não sabe cantá-lo ou não se identifica”, cabem algumas considerações. Quais são as ações desencadeadas pelo Poder Público no sentido de divulgá-lo?
Sabemos que foram pífias ao longo dos tempos. Particularmente, fiz parte de uma geração escolar (1970/1978) que não teve acesso ao hino. Se no ambiente escolar o acesso ao Hino não foi e não é devidamente estimulado, ensinado e divulgado, como as gerações vão agregar valores no sentido de preservá-lo e cantá-lo? Desconheço pesquisas que possam validar a tese de que o “povo não se identifica com ele”. Qual é a fonte de tal assertiva?
É fato que outros Hinos como o Nacional, Independência e o da Bandeira são desconhecidos por uma boa parcela da população, e que, infelizmente, não sabem a letra ou cantá-los, entretanto, não se justificam as suas substituições. É preciso ensiná-los e divulgá-los com ações educativas contínuas.
Em agosto de 2023, realizou-se uma audiência promovida pela Alesc para discutir a mudança do Hino, e contou com a participação de entidades culturais e Conselho Estadual de Cultura/CEC-SC, que se manifestaram contrários à alteração. Nosso Hino continua belo e atemporal, enaltecendo o seu povo, a bravura e a justiça social, além da essência e o primor abolicionista, o que o deixa atual, frente ao cenário de preconceitos e discriminações.
Alzemi Machado é Vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura
alzemimachado@gmail.com
Sagremos num hino de estrelas e flores
Num canto sublime de glórias e luz
As festas que os livres frementes de ardores
Celebram nas terras gigantes da cruz
Quebram-se férreas cadeias
Rojam algemas no chão
Do povo nas epopeias
Fulge a luz da redenção
Quebram-se férreas cadeias
Rojam algemas no chão
Do povo nas epopeias
Fulge a luz da redenção
O povo que é grande, mas não vingativo
Que nunca a justiça e o direito calcou
Com flores e festas, deu vida ao cativo
Com festas e flores, o trono esmagou
Quebrou-se a algema do escravo
E nesta grande nação
É cada homem um bravo
Cada bravo, um cidadão
Quebrou-se a algema do escravo
E nesta grande nação
É cada homem um bravo
Cada bravo, um cidadão