1.
O que é o imperialismo? Em diálogo com Rosa Luxemburgo, de Acumulação do capital, livro de 1913, o imperialismo é o vetor bélico-burocrático que superexplora e violenta os povos, principalmente da África, Ásia, América Latina, transformando, assim, a acumulação primitiva do capital em um vetor transversal do modo de produção capitalista, tendo em vista: a) a ampliação do mercado capitalista para regiões periféricas; b) sem deixar de se apropriar das matérias-primas importantes para o controle militar-monopólico do mercado ampliado; c) objetivando sempre a reprodução ampliada do capital, impossível de ser efetivada apenas por relações capitalistas de produção.
2.
Para Karl Kautsky, em ensaio de 1914, intitulado Ultraimperialismo, o imperialismo é captura e ao mesmo a manipulação que os detentores do capital monopólico dos centros do sistema mundial capitalista fazem da renda diferencial da terra, ao associar-se com as oligarquias latifundiárias, com o propósito de violentar e de superexplorar os povos excluídos do direito sagrado à terra. Argumentou também que a tendência do imperialismo seria a de se transformar em ultraimperialismo, definindo este como um consórcio de países imperialistas que deixaria de guerrear entre eles depois que a partilha do mundo estivesse realizada.
3.
Em Imperialismo: etapa final do capitalismo, obra de 1916, Lênin o definiu, o imperialismo, como: a) forças extraeconômicas; b) associadas ao capital monopólico; c) misto de capital financeiro e industrial; d) que, armadas até os dentes, impõem e ao mesmo tempo disputam, mundialmente, o saqueio dos povos; d) forçando uma restrita hierarquização do desenvolvimento desigual e combinado; e) entre diferentes regiões do planeta; f) separando-as em centro e periferia; g) razão pela qual a etapa final do capitalismo, que é o imperialismo, é, também, o período de guerras permanentes.
4.
Atualizando esses três imensos teóricos do imperialismo, com Rosa Luxemburgo, de 1913, objetiva-se que a acumulação primitiva, com o sangue dos povos, é a cara escarrada do capitalismo imperialista. Com Kautsky de 1914, o que se evidencia é que o imperialismo tem como eterno aliado, para vampirizar os povos, o que há de pior na história destes últimos: latifundiários, capatazes, capitães do mato, fanáticos, sectários, lúmpens. Com Lênin, de 1916, por sua vez, o que se precisa é: o imperialismo é etapa final do capitalismo. Com isso o líder da Revolução de Outubro incorporou, para além das diferenças, ao mesmo tempo a perspectiva de Rosa Luxemburgo e de Kautsky, a fim de nos mostrar que essa etapa final significa sem meias palavras o inferno integral dos povos.
5.
Um traço comum em Rosa Luxemburgo, Kautsky e Lênin é: o imperialismo exporta capitais e guerras para as periferias do sistema, o que significa o retorno, no interior do modo de produção capitalista, do vetor precedente, o colonial.
6.
Outro traço comum é: o imperialismo é uma particularidade que o capitalismo assumiu, com a emergência do Estado e capital monopólicos. Essa particularidade, no entanto, assume a seguinte configuração: os Estados imperialistas deixaram de ser, com a emergência do capital monopólico, Estados burgueses e se tornaram propriamente Estados imperialistas que disputam e ao mesmo tempo impõem relações desiguais capitalistas de produção aos povos do mundo, com o objetivo de se apropriar do excedente da reprodução ampliada do capital.
7.
Assim, pois, como no capitalismo as relações sociais de produção são relações capitalistas de produção, no imperialismo emerge o que é possível chamar de relações imperialistas desiguais e interestatais de produção, que são um amálgama do colonialismo e do capitalismo, além do retorno híbrido de relações ao mesmo tempo capitalistas, feudais e escravistas de produção.
8.
No plano da concorrência pela superexploração dos povos, surgem as relações interimperialistas, responsáveis objetivamente pela primeira e a segunda guerras mundiais. Após, no entanto, a segunda guerra mundial, as relações interimperialistas de concorrência pelo saqueio dos povos, transformaram-se em relações ultraimperialistas de produção, sob o domínio do Estado monopólico de EUA.
9.
Diferentemente do que pensava Kautsky, a emergência do ultraimperialismo estadunidense não significou o começo de uma era de paz consensuada entre as potências imperialistas. Pelo contrário, a propósito, no livro Pentagonismo: substituto do imperialismo, escrito em 1967, seu autor, o ex-presidente da República Dominicana, Juan Bosch (ele mesmo golpeado por EUA), definiu o Petangonismo como uma nova fase do imperialismo, marcada por guerras permanentes, tendo como epicentro o complexo militar/industrial/financeiro/cultural estadunidense.
10.
O que Juan Bosch chamou, pois, de Pentagonismo, chamo de ultraimperialismo estadunidense, definido como ao mesmo tempo um metacolonialismo, porque retoma as formas coloniais de domínio dos povos; um metacapitalismo porque produz um capitalismo à sua imagem e semelhança, monopolizando a cadeia de valor em escala planetária; um metaimperialismo porque submete as potências imperialistas precedentes, sobretudo Alemanha, Inglaterra, França e Japão, ao mesmo tempo em que atualiza sem cessar as táticas e estratégicas usadas pelos países imperialistas precedentes, monopolizando-as a seu favor.
11.
O ultraimperialismo estadunidense é, pois, a fase final do imperialismo.
PS. No próximo texto, com o mesmo título, descreverei o ultraimperialismo estadunidense, começando a partir do aforismo décimo primeiro deste ensaio.
Referência:
BOSCH, JUAN. El Pentagonismo: sustituto del imperialismo, Editorial de Ciencias Sociales, La Habana, 2007.
KAUTSKY, Karl. “ultraimperialismo”. In: Arquivo Marxista na Internet. 1914. Disponível em: https:// www.marxists.org/portugues/kautsky/1914/09/11-1.htm Acesso em: 8 de novembro de 2017.
LÊNIN, Wladimir. Imperialismo: fase superior do capitalismo. Trad. Olinto Bercherman. 4. Ed. São Paulo: Global, 1987.