Cada vez mais vozes estão dizendo que chegou a hora de os democratas abandonarem a rede social de Elon Musk porque ela está repleta de desinformação e mensagens de ódio cuja visibilidade é incentivada por seu próprio algoritmo.
Minha opinião é exatamente o oposto. Temos que ficar. Não podemos abandonar um campo de batalha crucial na criação da opinião pública. Porque, se o fizermos, a mentira avançará ainda mais e não haverá ninguém para desmontá-la.
Abandonar o X, o antigo Twitter, e dar por perdida a guerra contra a desinformação nessa rede social é o mesmo que ficar calado quando o machão de plantão diz à garçonete como ela é gostosa enquanto seus amigos riem e babam. Ou quando outro machão diz no bar que a maioria das denúncias de abuso ou agressão sexual é falsa, exceto quando o acusado é um imigrante. Ir embora tem o mesmo efeito que ouvir em silêncio o cunhado na reunião de família dizendo que vivemos em uma ditadura e que no tempo de Franco havia mais liberdade, porque caímos no erro de pensar que não vale a pena responder a ele porque ninguém pode acreditar nessa bobagem.
Qualquer espaço público em que se gere opinião sobre questões que são transcendentais para nossas vidas é um espaço em que temos de estar.
Porque o Twitter tem quase 12 milhões de usuários na Espanha, quase um quarto da população. Milhões de pessoas que a extrema-direita está tentando contaminar com o vírus do ódio. Com muitos, já conseguiu. Não vamos facilitar tanto para que eles continuem espalhando suas mentiras, colocando a democracia em risco.
Qualquer pessoa que queira sair do Twitter porque está farta de ser insultada não deve pensar que, se substituir o Twitter pelo Bluesky, não encontrará pessoas que estão apodrecidas pelo ódio. Há um número crescente delas todos os dias. Elas estão em todas as redes sociais.
E para qualquer pessoa que esteja pensando em deixar o Twitter porque o algoritmo é manipulado para favorecer o discurso da extrema-direita, convido-a a refletir sobre o fato de que é mais necessário do que nunca ficar lá.
O que aconteceria se os políticos, jornalistas e ativistas que defendem valores baseados na igualdade e no bem comum decidissem parar de participar de jornais, estações de rádio ou canais de TV que às vezes ou até mesmo regularmente divulgam fake news criadas pela extrema-direita? Se não houver mais ninguém nesses meios de comunicação para desmontar essas mentiras, eles contaminarão ainda mais pessoas com elas do que estão fazendo agora. Uma coisa é que muitos desses meios de comunicação nos vetaram. Mas recusar-se a participar deles quando formos convidados seria um grande erro. Porque não há arma mais poderosa do que as palavras. E se ficarmos calados, se pararmos de usá-las onde elas podem ser mais ouvidas, estaremos entregando nossas armas diante do inimigo.
Eu sou Rubén Sánchez e às vezes vejo fraudes.
Editorial do episódio 64 do podcast En Ocasiones Veo Fraudes.
Tradução TFG, para desacato.info.
A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.