Desde que São Paulo virou noite em plena tarde e se descobriu que se tratava de uma consequência das queimadas da região da Amazônia, a causa pela proteção da floresta ganhou as redes sociais. A repercussão na mídia internacional tem sido enorme, sendo destaque nos principais jornais do mundo. Em qualquer país, o que se esperaria seria um grande esforço do governo para conter a situação, um pronunciamento reconhecendo a importância da região para o país e para o mundo, mas em tempos de Bolsonaro o que ocorre é desesperador.
“São os índios, quer que eu culpe os índios? Vai escrever os índios amanhã? Quer que eu culpe os marcianos? É, no meu entender, um indício fortíssimo que esse pessoal da ONG perdeu a teta deles. É simples.” Esta é declaração do presidente na manhã desta quinta-feira (22), na saída do Palácio da Alvorada. Ele afirmou ainda que fazendeiros “podem estar por trás” dos incêndios na Amazônia, mas a sua maior suspeita ainda recai sobre as organizações não-governamentais (ONGs).
Quando eleito, queria acabar com o Ministério do Meio Ambiente. Acabou colocando para assumir a pasta Ricardo Salles, seguidor de Olavo de Carvalho, já condenado por fraude ambiental. Nomeou para a Agricultura, Tereza Cristina, ruralista, chamada de “musa do veneno”. Nunca se liberou tantos agrotóxicos no Brasil em tão pouco tempo, inclusive muitos proibidos em países da Europa.
Nestes pouco mais de seis meses, esvaziou os órgãos ambientais e fiscais. Quer grandes hidrelétricas na Amazônia. Já anunciou que não fará demarcação de terras indígenas, os maiores guardiões das florestas. Quebrou o Fundo Amazônia, fazendo com que o país deixasse de receber R$ 288 milhões da Alemanha e Noruega destinados para projetos de preservação.
Diante dos dados de que o desmatamento na região havia crescido 278% em julho de 2019, em comparação ao mesmo período de 2018, Bolsonaro demitiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), Ricardo Galvão.
O Itamarati tentou defender o Brasil, mas não há como brigar com os dados. O desmatamento na Amazônia Legal, que engloba a região Norte mais parte do Maranhão e Mato Grosso, caiu de 27,8 mil km² em 2004 para o menor resultado histórico em 2012 (4.600 km²), justamente nos dois governos Lula.
O Twitter do ex-presidente, preso há 500 dias, chegou a publicar um vídeo onde é possível comparar os discursos dos dois presidentes em relação à Amazônia. “Não é necessário no Brasil derrubar uma única árvore na Amazônia para plantar um pé de soja. Não é necessário no Brasil derrubar uma única árvore na Amazônia para criar uma cabeça de gado. Se alguém estiver fazendo isso, estará praticando um crime. Uma ilegalidade e, sobretudo, um crime contra a economia brasileira. Na hora em que o mundo percebe que vai haver desmatamento na Amazônia, para produzir soja, cana ou gado, certamente, nós, que hoje somos competitivos, iremos sofrer uma concorrência muito mais séria”, dizia Lula, quando era presidente.
É só comparar: é assim que um presidente de verdade fala sobre proteção da Amazônia. E Lula além de falar, ampliou as políticas de proteção do Meio Ambiente ao mesmo tempo que abria mercados no mundo para as exportações agrícolas. #TimeLula #LulaLivre pic.twitter.com/DSPrn7pFfQ
— Lula (@LulaOficial) August 21, 2019
Desde 2012, os índices vêm crescendo até chegar aos níveis alarmantes de 2019. Os discursos de Bolsonaro causam cada vez mais indignação a quem se preocupa minimamente com o planeta e sua sustentabilidade. Com o crescimento do alcance dessa causa, como vemos agora, quem sabe ele comece a entender que a questão ambiental não importa só “aos veganos que comem só vegetais”.
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