Por Maurício dos Santos, para Desacato.info.
É neste ateliê, que se assemelha a uma enérgica e misteriosa casa de boneca, situada numa rua tranquila do tímido município de Brusque – capital têxtil do Vale do Itajaí, em que arte-educadora Marina Dauer exercita seu poder de mudar o destino de quem conviverá com seu trabalho.
Suas artes plásticas multiplicam-se em cores que só uma alma apaixonada pela vida pode desnudar.
Em um diálogo filosófico com poesias musicadas, em que Marina ouve enquanto traduz em cores seu espírito, a pintura da artista é apresentada cada dia mais fortalecida. Nas paredes, em cima da mesa ou na escada: tudo no ateliê é traduzido em arte. A composição vivencial demonstra o quanto Marina Dauer, hoje, é outra pessoa. Podem ser várias, soltas e livres faces de uma mulher, filha da coragem, que busca brincar, diariamente, com o mais doce dos poderes humanos: a sensibilidade.
Não é à toa que tantos amigos e conhecidos a chamam de “Fênix”. Enfrentou muitos desafios pessoais, mas hoje tem a certeza de que nasceu para brilhar. Pode até chorar, sofrer, sentir-se recolhida. Quanto mais ela cria, mais renasce uma sublimação ensolarada. Sua vida é rima de poesia, o dia inteiro.
Marina é também uma dedicada professora de artes. Compartilha seus saberes artísticos de maneira terapêutica. Quando chegamos em seu espaço, logo nos deparamos com canções de amor pelo ar. Pinta todo o dia, prepara semanalmente sua coluna cultural de ensaios sobre artistas e produtores, organiza exposições, relembra sua vida. Memórias incansáveis de uma heroína. Ah, também escreve poesias – um de seus deliciosos segredos.
O diálogo com a Educação e outras ciências humanas, revela em seus interstícios a possibilidade de se apreender, através de uma forma metafórica, alguns conceitos que permeiam o universo ficcional, mesmo à revelia intencional de seus autores.
As obras vivas e pungentes, às vezes chocantes, nos convida para o estudo das forças que impelem a artista em direção a um objetivo permanentemente perseguido: o encontro consigo mesma. Compulsão, sublimação, criação? Será possível identificar o que está por trás de pinturas, especialmente autorretratos, que insistem em expor um mundo cheio de dor, feridas e depressão, e ao mesmo tempo denotam esperança e inspiração, e em alguns momentos até irreverência? Este trabalho tem como objetivo fazer conjecturas a respeito dessas questões, baseando-se na análise de dados de sua vida e de sua obra, considerados similares às associações livres produzidas dentro do processo psicanalítico.
A arte-educadora possui diferentes técnicas de atuação. Ousa com diferentes materiais e técnicas – uma arquitetada mistura que apresenta o universo feminino. Várias exposições que organizou constituíram os papéis da mulher na sociedade, em diferentes perspectivas. Já levaram o nome de Brusque para Mostras e Exposições em várias regiões.
As flores, a natureza encantadora e os olhares solitários que ela pinta não têm nada de frágeis: oscilam entre o poder e a bravura da razão. Apresentam o poder feminino como fator protagonista de suas interfaces, fazendo uma conexão com outras ciências.
Libre, leve, solta…. Com asas ou sem.