Imagine um rolo de plástico bolha sendo enrolado ao redor da Terra pelo menos 500 vezes. Essa é a estimativa, de acordo com um novo relatório [disponível aqui em inglês] publicado pela associação ambientalista Oceana, da quantidade de lixo plástico produzido pela gigante do comércio eletrônico Amazon.
A reportagem é de Giacomo Talignani, publicada por La Repubblica, 17-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É um dado divulgado no novo relatório da associação em defesa dos oceanos, relativo a 2019 e que, portanto, não leva em consideração o aumento das vendas online no ano de 2020 afetado pela pandemia, no qual a empresa cresceu desmesuradamente, chegando a valer o valor recorde de 200 bilhões de dólares de share capital.
Cada uma das nossas encomendas, cada pacote embalado e enviado, cada embalagem preparada significa uma enorme produção, em escala global, de resíduos plásticos que, se mal geridos, correm o risco de continuar impactando perigosamente a saúde dos nossos oceanos e ecossistemas, onde acabam todos os anos entre 8 e 13 milhões de toneladas de plástico.
Segundo a Oceana, a multinacional estadunidense produziu no ano passado mais de 210 mil toneladas de resíduos plásticos de difícil destinação. Uma quantidade enorme, mas que para a Amazon não é verídica: o grupo, engajado nos últimos anos na tentativa de utilizar materiais recicláveis e compostáveis para as suas encomendas, negou os dados da Oceana com uma declaração ao site The Verge, na qual afirma que o valor é exagerado em pelo menos “350%”.
A Amazon afirma utilizar menos de um quarto da quantidade de plástico indicada pelos ambientalistas, mais ou menos 52 mil toneladas por ano, o que ainda é uma quantidade gigantesca.
A Oceana rebate, confirmando os dados do seu relatório, indicando pouca transparência sobre o uso real do plástico por parte da gigante online e defendendo que, “mesmo que o número menor reivindicado pela empresa para a pegada das embalagens plásticas fosse verdadeiro, mesmo assim seria um enorme quantidade de resíduos plásticos, o suficiente para envolver a Terra com plástico bolha mais de 100 vezes, o que poderia causar problemas muito grandes para a saúde dos oceanos”.
Nos últimos anos, a Amazon priorizou o uso de embalagens plásticas leves para reduzir suas emissões de carbono, embora tenha ignorado os impactos negativos da poluição por plástico e que os plásticos são feitos de combustíveis fósseis.
(Fonte: Kim Houchens Presentation, AWS re:Invent 2019 conference)
O problema das embalagens relacionadas às encomendas está ligado principalmente à dificuldade de reciclagem. O plástico, do qual apenas 9% em nível mundial é recuperado e reciclado, é um material complexo, e, se somarmos a isso os maus hábitos e os problemas na coleta seletiva, a questão do impacto ambiental torna-se espinhosa.
De acordo com uma pesquisa com os clientes Prime, por exemplo, nos Estados Unidos, apenas 2% dos entrevistados afirmam descartar corretamente o plástico das embalagens. Os números divulgados pela Oceana, calculados sem dados fornecidos pela empresa, colocam os holofotes tanto sobre a crise da poluição do plástico quanto sobre a necessidade de encontrar cada vez mais materiais recicláveis para as encomendas.
A mesma associação ambientalista, por exemplo, defende que a Amazon na Índia, onde o uso de embalagens descartáveis foi proibido, está indo bem e “mostrou que é capaz de avançar rapidamente no assunto, mas agora deveria adotar as mesmas medidas em nível global”, dizem os ativistas.
(Fonte: Global E-commerce Plastic Packaging Market)
Por enquanto, sem declarar a quantidade de embalagens utilizadas, a Amazon, em um comentário postado pela FreightWaves, se limita a afirmar que compartilha “a ambição da Oceana de proteger e restaurar a saúde dos oceanos do mundo. Defendemos um uso reduzido de plástico e, desde 2015, reduzimos o peso das embalagens em mais de um terço e eliminamos quase um milhão de toneladas de material de embalagem”, afirma uma nota.
Apesar disso, a Oceana afirma no seu relatório que pelo menos 1% dos resíduos plásticos gerados pela Amazon estão chegando aos rios e aos oceanos do mundo, o que equivale a despejar um furgão de entrega cheio de plástico nos cursos d’água a cada 70 minutos.
Para tentar mitigar o seu impacto sobre a saúde ambiental do planeta, a Amazon – que recentemente contratou mais de 420 mil trabalhadores, aumentando a sua força de trabalho para mais de 1,2 milhão de empregados globalmente – há muito tempo anuncia que quer intensificar os seus esforços para se tornar neutra em carbono até 2040, com um investimento de mais de dois bilhões de dólares em energias renováveis e em tecnologias sustentáveis.
Veja aqui uma página especial sobre resíduos plásticos, preparada pelo jornal La Repubblica.
Compras verdes
No entanto, permanece em aberto a necessidade, em nível global, de uma reavaliação das embalagens das encomendas. Em vários estudos, incluindo o da Scuola Superiore S. Anna de Pisa, o impacto do comércio eletrônico sobre o ambiente foi calculado: ele gera um packing cujo impacto ambiental é 10 vezes superior ao de uma clássica sacola plástica (182 kg de CO2 equivalente versus 11 kg de CO2 equivalente).
Só em 2019, a pegada ambiental gerada pela Amazon foi de 44,4 milhões de toneladas de CO2, quase tanto quanto a da Suécia inteira. Números impressionantes que obrigam a mesmo gigante a uma série reflexão, como desejaria a Oceana, sobre o futuro das embalagens plásticas e a saúde do nosso planeta.