Política, militância e redes sociais. Por Jorge Elbaum.

Por Jorge Elbaum.

  1. A direita está habituada a privilegiar os laços individuais e ao mesmo tempo desconfia – por razões demográficas – das organizações sociais. O seu poder reside na acumulação de capital, no exercício de privilégios e na fragmentação social. A sua potencial fraqueza reside precisamente no inverso dessa realidade, no fato de exercerem domínio sobre uma maioria que, se tomasse consciência do seu poder relativo, não poderia ser controlada ou manipulada.
  2. As redes sociais estabelecem o princípio da individuação que é funcional ao neoliberalismo. Por sua vez, os setores populares – e os seus dirigentes ou representantes – são obrigados a gerar associativismo político e comunitário. Esta diferenciação exige considerar respostas coletivas à utilização das plataformas, dada a sua influência crescente, especialmente entre os mais jovens. Depois da pandemia, multiplicaram-se as engrenagens virtuais, multiplicaram-se os empregos domésticos, aprofundou-se o isolamento e a ligação radial e anárquica com as plataformas e a informação. Esta situação – que se agravará nos próximos anos – exige que sejam consideradas novas tarefas.
  3. Para assumir esta tarefa, é fundamental superar a aparente oposição entre “o mundo real, factual e territorial” versus “o universo virtual e digital”. Não há divisão entre ambas as dimensões da realidade. Militar e fazer política significa expressar, convencer, explicar, treinar e convencer.
  4. Toda a prática política é realizada através do exemplo simbólico, atitudinal e da comunicação. Isso significa que “o simbólico”, ou seja, o expressivo, o textual, o representacional (divulgação de imagens, vídeos, textos, histórias em quadrinhos, grafites, memes, desenhos, panfletos, etc.) são formas intrínsecas de ativismo e de configuração de consciências. O que os anarquistas do final do século XIX e início do século XX chamavam de “atividades de propaganda”.
  5. Militar é, portanto, jogar em todos os campos onde as opiniões são debatidas e as sensibilidades são guiadas. Significa lutar em todos os territórios onde se constrói o bom senso. Deixar o espaço livre de redes porque elas deveriam ser insignificantes é um erro gigantesco.
  6. Da mesma forma, acreditar que o ativismo digital deve ser privilegiado em relação ao ativismo presencial e cara-a-cara também significa uma leveza imperdoável. Não há antagonismo entre o ativismo territorial, corpo a corpo e a obsolescência digital. Ambos são vetores concomitantes, retroalimentadores e instituintes da política.
  7.  Para lutar juntos – em ambos os espaços vitais – é preciso treinar o diálogo, a persuasão e os formatos úteis e eficazes em cada campo. Isto implica – entre nós que almejamos sociedades mais integradas, mais democráticas e igualitárias – promover a “nado sincronizada”, ou seja, a confluência de conteúdos comuns que respondam aos interesses populares, superando qualquer divisão ou narcisismo.
  8. A presença e o virtual devem estar relacionados e ser coerentes. Ambos os capítulos têm que fazer parte da mesma estratégia: quem, por idade, trabalho ou militância, tem mais oportunidades de realizar interações diretas tem que reforçar a sua presença virtualmente. E vice-versa: quem conhece a lógica das redes deve tentar “materializar” os seus vínculos em situações de assembleia e/ou híbridas: “colocar o corpo” é naturalmente uma das formas mais contundentes de autenticidade.
  9. Em todos os espaços – sejam eles políticos, sindicais, associativos e/ou educativos – o aparato de propaganda virtual deve ser organizado coletivamente. Não deveria ser – como acontece atualmente – apenas o espaço de atiradores bem-intencionados.
  10. Uma das tarefas militantes do presente é começar a organizar estas duas dimensões de forma coerente e interativa. É hora de repensar o ativismo e a militância a partir de uma perspectiva mais integrada, capaz de disputar a presença e a assertividade do capital tecnofeudal (com os seus algoritmos, censura e bots) com os quais insistem na sua tarefa de fragmentar e enfraquecer os coletivos populares.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

Tradução: TFG, para Desacato.info.

 

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