Uma observação perdida em meio a uma entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso indica que a disputa a respeito da corrupção na Petrobras extrapolou o mundo político e pode ter adentrado também a redação da Reuters.
Na segunda-feira 23, a agência de notícias britânica publicou uma entrevista com o ex-presidente sobre a atual conjuntura política no País. No quinto parágrafo, há uma frase de FHC atribuindo ao ex-presidente Lula “mais responsabilidade política” pela corrupção na estatal do que a Dilma Rousseff, a atual chefe do Executivo.
No parágrafo seguinte, o texto lembra que um dos delatores do esquema, o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, disse ter começado a receber propinas em 1997, ainda sob o governo FHC. Entre o sexto e o sétimo parágrafos, logo após a citação de Barusco, aparecia entre parênteses a observação “Podemos tirar, se achar melhor”.
O comentário, que indica a possibilidade de o trecho sobre a corrupção na era FHC ser suprimido, é uma mensagem esquecida pelos jornalistas envolvidos na versão final do texto. Segundo informou a Reuters a CartaCapital, a frase, “publicada acidentalmente”, é uma “pergunta” de um dos editores do serviço brasileiro da agência “ao jornalista que escreveu a versão original da matéria em inglês”. O autor da entrevista, Brian Winter, escreveu em parceria com Fernando Henrique Cardoso um livro de memórias do ex-presidente, chamado O Improvável Presidente do Brasil.
O “Podemos tirar, se achar melhor” foi apagado e não está mais no ar, como também confirmou a Reuters em nota (leia a íntegra no fim do texto). Um busca no Google pela expressão mostra que a observação foi mesmo ao ar. O cache do site de buscas armazena versões anteriores das páginas da internet e traz a frase “Podemos tirar, se achar melhor” imediatamente antes das palavras “Apesar das turbulências”, que abrem o sétimo parágrafo.
Uma versão da entrevista com FHC republicada pelo jornal A Cidade, de Ribeirão Preto (SP), também trazia a expressão, até olink ser apagado pelo jornal, na tarde desta terça-feira 24.
As palavras de Pedro Barusco geraram uma disputa entre PT e PSDB a respeito de qual dos dois partidos é o pai da corrupção na Petrobras. Ex-auxiliar de Renato Duque, o ex-gerente de Serviços da estatal indicado pelo PT, Barusco ajudava seu chefe a lidar com a propina recebida pela diretoria em que trabalhavam, como mostram as investigações da Operação Lava Jato.
No ano passado, Barusco assinou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e fez diversas revelações. Entre elas, que começou a receber propinas na Petrobras em 1997 e que o pagamento de valores indevidos se tornou “sistemático” no ano 2000. Em depoimento na CPI da Petrobras, Barusco reafirmou o recebimento de propina a partir de 1997 e disse que, a partir de 2003 (ano da posse de Lula), o recebimento de propina estava “institucionalizado” na estatal. Segundo Barusco, sua estimativa é de que o PT teria recebido até 200 milhões de dólares em dinheiro público desviado.
Abaixo, a íntegra da resposta da Reuters sobre o caso:
“Em 23 de março, a Reuters publicou inadvertidamente uma reportagem em Português que continha uma pergunta de um dos editores do Serviço Brasileiro de notícias ao jornalista que escreveu a versão original da matéria em Inglês. A pergunta, que deveria ter sido removida do texto, foi publicada acidentalmente. A Reuters em seguida publicou uma segunda versão do texto sem a pergunta. O conteúdo de ambos os textos em Português é exatamente o mesmo, e lamentamos qualquer confusão causada pelo engano.”
Fonte: Carta Capital