Por Gregório Mascarenhas.
Uma cena chamou a atenção de quem assistia, na quarta-feira (24), à cobertura dos protestos em Brasília que pediam Diretas Já e a saída de Michel Temer da presidência: um grupo de policiais civis carregava uma colega que sangrava, enquanto acenavam, sinalizando para que as bombas e balas de borracha cessassem. Lotada em uma delegacia de Porto Alegre, a policial ferida se chama Ana Janete Lopes da Silva e é natural de Cachoeira do Sul. Ela passa bem, mas se feriu quando uma bomba jogada pela Polícia Militar do Distrito Federal explodiu ao lado de seu pé. Um dos homens que a carregava é Isaac Ortiz, também policial civil e presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul (Ugeirm).
Ele relatou, ao Sul21, os momentos de tensão vividos na tarde de ontem, e chamou de “despreparada” a atuação da PM-DF. Oitenta policiais civis foram enviados pela entidade de classe à capital para representar a categoria. Ortiz conta que eles, junto com outros trabalhadores da segurança pública de outros estados, estavam em um setor separado, no protesto, quando a polícia começou a jogar bombas. “Eles jogaram para todo o lado, no caminhão, de helicóptero, onde nós estávamos. Nós fomos lá conversar e pedir para que parassem com isso, a gente conversou com os comandantes deles várias vezes. Eles estavam muito descontrolados. Na realidade, a PM do Distrito Federal estava despreparada para a manifestação”, narrou.
Ortiz afirma que a PM colocou a vida dos manifestantes – e também dos próprios soldados – em risco: “colocar um pelotão de choque com 15 policiais no meio da multidão, a jogar bomba, é um perigo. Se a população fosse realmente baderneira, digamos, se a população realmente quisesse agredir os policiais, eles tinham quase os matado. Era muita gente e pouco policial, no meio de tudo, em campo aberto. Tentaram também, com meia dúzia de cavalos, se jogar por cima de nós. Foi um horror. Aí houve um bate boca, empurra-empurra, com policial caindo por cima dos cavalos, ‘por cima de nós, vocês não vão tocar cavalo’, dissemos.”
Ele descreve que nenhum dos policiais civis estava armado e que “não fizemos nada que pudesse justificar a polícia jogar bomba em nós, nada de mais, só ficamos ali protestando. No caso da Janete, foi uma bomba que eles jogaram e estourou no pé dela. Os bombeiros medicaram ela ali e ela levou ponto. Ela está bem”.
O policial diz também que houve um despreparo ao colocar os Bombeiros do outro lado da barreira que separava os manifestantes do Congresso: “quando se precisava de atendimento não se conseguia. Eles deveriam ter um acesso fácil aos bombeiros e aos médicos. Outra colega também levou tiro com bala de borracha, e um colega de uma penitenciária federal também levou um tiro de bala de borracha na cabeça. Outro colega, policial civil do Ceará, foi ferido no rosto. Foi um absurdo o que aconteceu lá. Mostrou o despreparo da Polícia Militar de Brasília”, concluiu.
Fonte: Sul21