Pisos estaduais e a retomada do crescimento no Brasil

 

Por José Álvaro de Lima Cardoso*

No dia 14 de janeiro, as centrais sindicais, assessoradas pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e os representantes empresariais, farão mais uma rodada de negociação visando a definição dos pisos estaduais de salários em Santa Catarina, a vigorar em 2016. Nas reuniões que vêm ocorrendo desde dezembro, o principal tema debatido tem sido a crise econômica brasileira. Os representantes das centrais, e suas assessorias, não ignoram a existência da crise econômica. Ela é uma realidade, até em decorrência da crise política, que vem sendo cuidadosamente alimentada no país. Como se sabe, as esferas econômica e política, são estreitamente interligadas. Não é possível engendrar uma crise política com a profundidade da atual sem que isso afete as expectativas econômicas de empresários, trabalhadores e governos.

Como esperar que as crenças de centenas de milhares de brasileiros – por exemplo, a de que o Brasil está quebrado e com uma dívida impagável – não teria um forte impacto sobre o crescimento, emprego e a renda? É comum se ouvir nas discussões, em ambientes populares, que o Brasil atravessa a pior situação do mercado de trabalho da história, quando ocorre justamente o contrário (apesar da deterioração recente). Portanto, em boa parte, a crise econômica foi causada pelos “objetivos e desejos” de alguns (inclusive com fortes ramificações externas, em função da riqueza contida no pré-sal).

A crise política atual tem alguns alvos definidos, ainda que dissimulados: 1) desfazer os avanços que os trabalhadores conseguiram na última década ou pouco mais; 2) realinhar o Brasil com a política e os interesses internacionais dos EUA; 3) determinar o fim da soberania na província do pré-sal (Modelo de Partilha). O brutal acirramento do enfrentamento político no Brasil está também relacionado à crise internacional iniciada em 2008, que provocou queda do preço das commodities e redução do preço do petróleo, tornando mais curto o cobertor da economia internacional e brasileira. E esta crise não tem prazo para acabar.

O ano que começa é uma página em branco a espera de uma escrita. O nível da produção, do emprego e do crescimento dependem das ações que tomarmos agora e nos próximos meses. Todos estamos de acordo que temos que incrementar a produtividade, gerar empregos de qualidade, aumentar a renda média, garantir educação de qualidade, fortalecer a democracia e suas instituições, corrigir e reorientar a política econômica. Não conseguiremos fazer isso pagando salários baixos e tampouco tendo gastos com a dívida pública que alcançaram cerca de R$ 500 bilhões em 2015, valor próximo a 9% do PIB.

É fundamental mobilizar a vontade coletiva para viabilizar um modelo de desenvolvimento com valorização da produção e do trabalho. Para isso é preciso promover mudanças que priorize o setor produtivo e não o capital especulativo. O pedido de reposição salarial dos trabalhadores é de 15% para um piso estadual que está em 908,00 em sua 1ª faixa, valor apenas 3% superior ao novo salário mínimo nacional. Uma cesta básica para um adulto, em Florianópolis, com 13 produtos alimentares, já custa R$ 414,12, correspondente a quase 46% do piso estadual atual. Está se discutindo salários que se situam ao nível da sobrevivência, pois tratam-se de pisos em um padrão salarial que já é muito baixo.

As centrais sindicais, e os empresários comprometidos com o desenvolvimento, têm a obrigação de somar forças as forças com o objetivo de possibilitar a mais rápida transição para a retomada do crescimento e do desenvolvimento econômico e social no médio e longo prazos. Nesta perspectiva, iniciamos 2016 com boas notícias. A política de valorização do salário mínimo (SM) vem se mantendo, apesar das dificuldades. O SM foi reajustado em 11,68%, correspondente à variação de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 e à variação anual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo IBGE, em 2015. O valor resultante da aplicação da regra seria de R$ 877,73, mas o governo arredondou para R$ 880,00. Com esta revisão, o salário mínimo acumula ganho real de 77,18% desde abril de 2002.

A manutenção da política de valorização do SM é fundamental principalmente para os segmentos de rendas menores da pirâmide social brasileira, sobretudo neste momento em que a inflação se encontra em patamar mais elevado. Num momento de recessão com inflação alta, nada é mais importante do que garantir a renda desses extratos, inclusive como estratégia de preparação de retomada do crescimento em 2017. Somente o novo valor do mínimo, segundo dados do DIEESE, deverá injetar R$ 51,5 bilhões na economia brasileira neste ano. Além da definição positiva do novo mínimo, tudo indica que a economia irá apresentar queda no nível de atividade, porém menos aguda do que a verificada em 2015. Ademais, a taxa de inflação, segundo as previsões gerais, será inferior a do ano passado, o que é estratégico, especialmente para os trabalhadores da base da pirâmide: calcula-se que deverá ficar próxima a de 2014, em torno de 6,4%.

*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.