Piores enchentes da história da África do Sul já mataram mais de 300 pessoas

Uma ponte foi destruída depois que um rio rompeu suas margens em Ntuzuma, Durban, África do Sul, em 13 de abril de 2022. Foto: Rogan Ward/Reuters

RFI.- Os habitantes da cidade sul-africana de Durban começaram a procurar seus pertences nas casas destruídas e a limpar as ruas cheias de destroços, após enchentes históricas que atingiram o país no fim de semana. O balanço subiu para 306 mortos, anunciaram as autoridades locais nesta quarta-feira (13).

“Nosso povo está ferido. É uma catástrofe de proporções enormes”, declarou o presidente Cyril Ramaphosa, em Durban, na província de Kwazulu-Natal.

As chuvas atingiram índices jamais registrados em mais de 60 anos: até 450 milímetros num intervalo de apenas 48 horas.

“As estradas estão cheias de escombros e tudo foi levado pela correnteza. Não tem mais luz, a água foi cortada e as pontes caíram, deixando vários lugares ilhados. Os serviços de emergência estão saturados”, conta Sevjan Chetty, diretor da organização Port Shepstone Human Rights Centre, em entrevista à RFI por telefone. “Apelamos por voluntários do sul e muita gente veio ajudar, salvando umas 20 pessoas de morrerem afogadas. Muita gente perdeu as suas casas e outras moradias ainda vão desmoronar”, relata.

Estimativa preliminares apontam que mais de 2 mil casas e 4 mil moradias informais (barracos), foram danificadas. A polícia nacional mobilizou 300 agentes adicionais na região, enquanto a força aérea enviava aviões para ajudar nas operações de resgate.

As chuvas torrenciais inundaram várias áreas, destruindo casas e infraestrutura em toda a cidade, enquanto deslizamentos de terra forçaram a suspensão dos serviços ferroviários. As enchentes alagaram as ruas, onde apenas o topo dos semáforos era visível.

As chuvas obrigaram o maior porto da África subsaariana a interromper suas operações, já que a principal estrada de acesso sofreu grandes danos. Com a força das águas, os contêineres se transformaram em montanhas de metal.

A Igreja Metodista Unida no município de Clermont foi reduzida a escombros. Quatro crianças de uma família do bairro morreram depois que um muro desabou sobre elas.

Outras casas pendiam precariamente da encosta, milagrosamente intactas depois que grande parte do solo foi arrastada por deslizamentos de terra.


Escombros de uma igreja que desmoronou em uma casa. Quatro crianças morreram em Clermont, Durban, África do Sul, 13 de abril de 2022. Foto: Rogan Ward/Reuters

Mudança do clima

“Vemos como essas tragédias atingem outros países, como Moçambique ou Zimbábue, mas agora somos nós os afetados”, disse Ramaphosa, que se encontrou com famílias perto das ruínas da igreja.

Os países vizinhos da África do Sul sofrem desastres naturais de tempestades tropicais quase todos os anos, mas os sul-africanos costumavam ser protegidos das tempestades no oceano Índico. As regiões do sul do país, o mais industrializado do continente, sofrem as consequências da mudança climática, com chuvas torrenciais e inundações recorrentes e cada vez mais intensas. Em abril de 2019, as enchentes deixaram cerca de 70 mortos.

“Sabemos que a mudança climática está piorando, passamos de tempestades extremas, em 2017, para o que supostamente foram inundações recordes em 2019. Mas 2022 claramente as superaram”, disse a professora de estudos de desenvolvimento da Universidade de Joanesburgo, Mary Galvin.

Essas tempestades não eram tropicais; elas foram causadas por um fenômeno meteorológico que trouxe chuva e frio para grande parte do país. Quando atingiram o clima mais quente e úmido da província de KwaZulu-Natal (KZN), onde fica Durban, choveu ainda mais.

450 mm em 48 horas

“Algumas partes do KZN receberam mais de 450 mm [de chuva] nas últimas 48 horas”, disse Tawana Dipuo, do serviço meteorológico nacional, quase metade dos 1.009 mm de chuva anual de Durban. “Hoje ainda está chovendo em algumas partes da província, mas à tarde vai clarear”, disse Dipuo.

Pelos menos 140 escolas foram afetadas pelas inundações, segundo autoridades locais. O restante dos estabelecimentos voltou a abrir suas portas nesta quarta-feira, mas havia menos alunos. Um professor de uma escola de ensino fundamental no subúrbio de Inanda, em Durban, disse que apenas dois dos 48 estudantes foram à aula. O governo provincial afirmou que a catástrofe “causou um caos incalculável e provocou grandes danos em vidas e infraestruturas”.

Com informações da AFP.

 

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