Por Tiago Pereira, da RBA.
A Polícia Federal (PF) suspeita que Anderson Torres, então ministro da Justiça do governo Bolsonaro, estava ciente da operação criminosa que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) deflagrou no dia 30 de outubro, durante o segundo turno das eleições de 2022. Provas obtidas pela PF indicam que o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques se encontrou com Torres na noite do dia 19 de outubro, logo após reunião do Conselho Superior da PRF, que definiu a operação que tinha o objetivo de promover blitze contra eleitores de Lula, principalmente no Nordeste.
Silvinei foi preso preventivamente nesta quarta-feira (9) no âmbito de investigações sobre supostas interferências no segundo turno das eleições de 2022. As provas obtidas pela PF indicam que o ex-diretor-geral da PRF teria determinado “policiamento direcionado” no dia do pleito decisivo, conforme revelou mensagens trocadas por seus subordinados.
A reunião que a PF investiga teria ocorrido no Ministério da Justiça e contado com a participação de Silvinei, seu diretor de inteligência, Luis Carlos Reischak, além da diretora de inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, e membros da cúpula da PF. Em conversa com outro agente da PRF, Reischak disse que “iria acompanhar SILVINEI em uma reunião com o então Ministro da Justiça”.
Além disso, a PF também constatou que Marília esteve “em reunião no Gabinete do MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) até as 20h37min” daquela data. “Muito embora ainda não se possa afirmar categoricamente o que foi tratado na reunião, chama a atenção o fato da coincidência de se tratar da mesma data da reunião do Conselho Superior da PRF”, diz trecho da representação da PF que consta na petição que autorizou a prisão de Silvinei.
Envolvimento de Bolsonaro
De acordo com a colunista Malu Gaspar, de O Globo, a PF está tratando essa reunião como “prova que a ‘Operação Eleições 2022’ foi uma decisão do governo de Jair Bolsonaro e não uma iniciativa isolada” de Silvinei. O próprio Silvinei, em depoimento à PF em novembro, afirmou que “a operação não era da PRF, era uma operação do Ministério da Justiça”.
O ex-diretor da PRF deve depor novamente nesta quinta-feira (9). Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas, no mês passado, ele negou que a PRF tivesse atuado para interferir nas eleições. Por sua vez, Torres disse ontem à mesma CPMI que “não houve interferência do Ministério da Justiça no planejamento da PRF”.
“O objetivo do ministro era fazer com que todos os órgãos subordinados ao ministério, especialmente a PF, participassem dos bloqueios. Na época, ele justificava as operações dizendo que era necessário combater a compra de votos no segundo turno”, diz a coluna.
CPMI: acariação e reconvocação
Outra evidência que Torres teria participado ativamente da operação de bloqueio nas eleições é uma viagem realizada à Bahia, cinco dias antes do segundo turno das eleições de outubro de 2022. À CPMI, o ex-ministro disse que foi vistoriar obras da PF no estado. No entanto, o ex-superintendente da PF na Bahia Leandro Almada, que se encontrou com Torres, disse em depoimento que a reunião com o ministro teve como propósito mapear cidades com propensão de voto ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste, bem como desenvolver um cronograma de ação no dia da votação.
Por conta dessas contradições, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), protocolou ontem um requerimento de acareação entre Torres e Almada. Além disso, ela afirmou que vai pedir a reconvocação do ex-chefe da PRF. “Quando Silvinei esteve na comissão, mentiu de forma escancarada em várias linhas. (…) E hoje, mais do que nunca, a partir desta prisão, está clara a necessidade dessa reconvocação.”
Participação direta
Além da participação de Torres nos bloqueios golpistas, Bolsonaro pode ter envolvimento direto na trama. Mais cedo, em entrevista ao portal Uol, o ministro do Desenvolvimento Agrário Paulo Teixeira revelou que o PT teve conhecimento de um encontro entre Bolsonaro, Silvinei e Torres antes do segundo turno das eleições de 2022.
“Durante a transição, uma pessoa, que não direi quem é, disse que Silvinei, Torres e Bolsonaro participaram de reuniões. Isso me foi relatado. A informação é de uma pessoa muito influente que frequentou o Palácio do Planalto naquele tempo. Não é ilação; são informações. Tive a confirmação dessa informação, sendo que a Gleisi (Hoffmann, presidente do PT) tinha a informação inicial”, afirmou o ministro.
Por conta disso, Teixeira disse que espera a prisão de Bolsonaro, por conta do seu envolvimento direto na trama golpista. Quem também pediu a prisão do ex-presidente foi o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ). Se o Silvinei Vasques foi preso, por que Bolsonaro não está preso? É funcionário dele. Fez tudo a mando do Bolsonaro. E a prisão é por um motivo muito concreto. A Polícia Federal achou organogramas nos celulares de agentes rodoviários sobre os locais de votação onde Lula teve mais de 75% dos votos”, disse o parlamentar na tribuna da Câmara.
Se Silvinei Vasques foi preso, Bolsonaro também tem que ser preso. Bolsonaro era seu chefe! pic.twitter.com/XxmDxhgbrK
— Lindbergh Farias (@lindberghfarias) August 9, 2023
—