Brasil de Fato.- “Sou o que sou graças ao MST, porque é uma organização que luta pela igualdade. E, quando eu falo de igualdade, também falo de igualdade de gênero”. A fala é de Thaisson Rodrigues de Campos, de 24 anos, oito deles vividos no Acampamento Maila Sabrina, em Ortigueira, na região central do Paraná. Homem trans, Campos é um dos nomes que integram o movimento de LGBTQIA+ do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
No Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado neste sábado, 29 de janeiro, o Brasil de Fato, a fim de mostrar as experiências de pessoas LGBTQIA+ fora de grandes centros urbanos, reuniu a história de duas pessoas trans que moram em acampamentos do MST.
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Campos está finalizando o curso de Ciências Sociais, na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), onde desenvolve a pesquisa “LGBT Sem Terra: Um estudo a partir do MST”, levantando questões de gênero e sexualidade a partir da sua trajetória na condição de homem trans, negro e sem-terra. Ele também é coordenador de um dos núcleos de base da comunidade e também do coletivo LGBT Sem Terra do Paraná.
“Uma das questões que eu sempre gosto de falar é sobre como é ser transexual fazendo parte do MST. É importante frisar que o MST tem princípios, e um deles é para nos organizar enquanto ser humano e sem-terra. Hoje em dia eu sou o que sou graças ao MST, porque é uma organização que luta pela igualdade. E, quando eu falo de igualdade, também falo de igualdade de gênero”, afirma Campos.
O jovem chegou ao acampamento do MST ao lado de seus pais, depois que a situação financeira apertou para a família. Até antes, Campos só havia escutado falar sobre o movimento por meio de um amigo que já morava no local.
“Chegamos e eu já comecei a participar de várias lutas junto com o MST. Uma questão também que eu sempre lembro é que, desde quando eu cheguei aqui, eu sempre fui LGBT e meus pais nunca foram contra mim, sempre me apoiaram muito bem, minhas irmãs também. Acho que já tive alguns episódios de preconceito, não nego, mas acho que isso a gente sempre superou”, afirma.
Para Campos, o Dia Nacional da Visibilidade Trans é “muito grande”. “Uma das coisas mais importantes para a gente lembrar é que somos e pertencemos, existimos e resistimos. O mundo nos oferece ódio e preconceito, a gente rebate com a nossa luta”, destaca.
“Um ser como qualquer outro”
Jeniffer Rocha, de 26 anos, três deles vividos na Comuna Fidel Castro, em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, afirma que a visibilidade trans é “muito importante” para que “a sociedade nos veja como um ser como qualquer outro”.
Rocha também conheceu o MST por meio de uma amiga. Antes de conhecer o movimento, criticava-o. “Mas, quando eu comecei a fazer parte dessa luta, eu fui ter o entendimento sobre o que aquelas pessoas faziam por direitos, por igualdade social, por moradia, para ter o seu reconhecimento diante da sociedade que nos expõe a tantas coisas”, detalha.
Mas o MST não é só isso, em suas palavras. “Não é só lutar por terra, mas também aprender. Lutamos por igualdade social, por reconhecimento”. Ela afirma que passou a se entender como mulher trans no MST. Agricultora, cirandeira, faxineira e manicure, Rocha também cuida de crianças — com quem se dá muito bem — em atividades do MST e é coordenadora do coletivo LGBTQIA+ no Rio Grande do Norte.
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