Por Elaine Tavares.
O mandado do presidente Pedro Castillo, no Peru, vem sendo sistematicamente atacado desde o dia da posse. Primeiro foram as acusações de fraude nas eleições, como se isso fosse possível a um candidato que estava totalmente alijado das estruturas do poder, considerado, inclusive, como um azarão. Ainda assim, o tumulto foi grande e atrasou a posse. Depois, vieram as sanções aos nomes dos ministros, que precisam ser aprovados pelo Congresso. Muitos deles acabaram pedindo para sair, como foi o caso do ex-guerrilheiro Héctor Béjar, para evitar maiores confrontos e para permitir que o presidente começasse logo a governar. E outros foram trocados por Castillo, também visando garantir governabilidade. Decisões questionáveis, pois, quando mais o governo vai cedendo, mais a direita vai avançando no sentido de pressionar o presidente contra a parede. Foram mais de cem dias para ter o gabinete aprovado.
Esta semana a oposição no Congresso decidiu mais uma vez tentar inviabilizar o trabalho de Castillo. Foi apresentada uma moção de vacância presidencial – destituição – contra o presidente alegando que ele não tem capacidade moral para dirigir o país. O pedido apresentado pela deputada Patricia Chirinos (Avanza País) tem 28 assinaturas, mas são necessárias 52 para que o Pleno possa admitir o debate. Na proposta de mais de 200 páginas as acusações são de que a coligação Peru Libre teria usado fundos públicos do governo regional de Junín na campanha eleitoral e que o presidente não poderia ter designado funcionários vinculados ao “terrorismo”.
Com mais esse ataque outra vez o governo terá de trabalhar para apagar o incêndio dentro do Congresso, uma batalha institucional que coloca de novo toda a equipe na defensiva. Nas redes sociais e nos meios de comunicação – cuja maioria está vinculada à direita – a campanha sobre uma possível incapacidade de governar é marcante. Os parlamentares incitam a população a sair às ruas para parar o que chamam de “caos”, embora o tal caos não seja visivel a não ser a partir das turbulências no Congresso.
Apesar de toda a campanha da direita peruana e dos ataques pontuais contra o governo, Pedro Castillo segue trabalhando na perspectiva de uma inversão de prioridades, tentando atender a maioria da população historicamente deixada para trás, investindo em programas de educação, saúde, energia, agricultura e moradia. Mas, a pressão dos grandes capitalistas – nacionais e estrangeiros – principalmente no que diz respeito ao setor de mineração tem feito com que Castillo aponte investimentos também nessa área. É uma queda de braço permanente.
A mídia, é claro, não dá destaque para o trabalho que vem sendo feito nas comunidades e no interior do país, e diariamente movendo suas baterias contra o governo. Portanto, essa é uma batalha que precisa ser travada principalmente pela população, com os poucos instrumentos que têm. Se não houver um movimento forte, nas ruas, de apoio ao governo, a direita vai continuar avançando, buscando, esta sim, o caos. Por outro lado, cada vez que o governo cede às chantagens e às provocações da direita igualmente vai perdendo credibilidade junto aos seus aliados.
São pouco mais de quatro meses de governo e Castillo precisa tomar uma decisão: ou aponta seu governo para um rumo de participação popular e mudanças estruturais, chamando a população para defender os câmbios, ou vai ser minado pouco a pouco até ser expulso do governo ou virar mais um triste exemplo da tentativa da esquerda liberal em servir a dois senhores, o que resulta sempre em desastre.
O enfrentamento a mais esse ataque da direita será decisivo.