Perigo não está apenas na água contaminada das praias

Muita gente doente no Norte da Ilha, foz de rio tapada com areia, água imprópria para banho e minhas dúvidas

Por Ana Carolina Peplau Madeira, para Desacato.info

Fiquei me perguntando se fechar com areia a foz do Rio do Brás não seria um agravante sobre a saúde pública da região (e dos turistas). Resolvi pesquisar, porque estudei biologia no século passado e pode já haver estudos mais atuais. Conversa de velha, parece, mas preferi confirmar o que lembrava com fontes oficiais.

Olha só o que encontro no site da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento – Casan: Várias doenças causadas por água contaminada, com sintomas de diarreia, vômitos, dor abdominal e febre. Parece que o que aprendi na escola ainda não mudou. Ainda não considero suficiente e continuo a busca. No site MD Saúde encontro uma doença assustadora. “Praias, rios e lagos que recebem esgoto não tratado podem ter suas águas contaminadas com o vírus da hepatite A”, conta o texto.

O quadro parece bem com a realidade local, “além do cólera e da hepatite A, vários outros germes, incluindo bactérias, vírus e parasitas, podem contaminar águas e os seres humanos que entram em contato com as mesmas”. E piora com outras possibilidades, “a leptospirose pode ocorrer após o consumo de líquidos e alimentos, mas a via principal é pelo contato direto da pele com água contaminados pela urina destes roedores”.

Agora complicou, a ilha de Santa Catarina encarou 60 dias de chuva, esse aguaceiro foi para os rios, por uma rede ou outra, e chegou ao mar. Espero que o norte de Florianópolis não tenha caramujos, porque “a esquistossomose pode ser adquirida através da ingestão de água contaminada, mas sua principal via é através da pele em pessoas que se banham em águas contaminadas pelo parasita”. Bom, como a água está imprópria para banho, então resta “pegar um sol”, na areia.

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Areia de praia esconde muitos perigos

Saudade da infância… horas a fio fazendo castelos e buracos para encontrar água no fundo. Fazia até o riozinho ao redor do castelo e tentava represar com… “pera aí”… lembrei que não durava nada e a água seguia seu rumo para o mar. Ou existe algum rio de litoral que não siga para o oceano? Geólogos e geógrafos me acudam, por favor! Melhor continuar a pesquisa.

Olha só, no site do Hospital Albert Einstein encontro dados claros de perigo conforme a umidade, “a areia úmida pelo esgoto não tratado pode ser um depósito de bactérias que causam, por exemplo, diarreia. Já a areia seca contaminada por fezes de animais (cães e gatos) pode transmitir parasitas e larvas, caso do bicho geográfico”. A areia pode servir até de “filtro” para as impurezas do rio, mas ficará mais infectada ainda.

Então minha desconfiança pode fazer sentido. Tem também este, “o ancilostomideo, ou bicho geográfico, é um parasita que penetra na pele humana e, ao se locomover, deixa traços e marcas semelhantes a um mapa”. Muitas pessoas já se incomodaram com essa praga, mas ela não apresenta os demais sintomas que invadiram postos de saúde do Norte da ilha.

Finalmente um bom exemplo!

Já ouvi falar que Florianópolis é uma pequena Rio de Janeiro. Então, sugiro copiar o bom exemplo de lá. No site da prefeitura da capital carioca, de ontem, há matéria que trata do monitoramento da areia da praia. “A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) realiza durante todo o ano um monitoramento para verificar a qualidade das areias em 35 pontos de praia no município, além do Piscinão de Ramos. O monitoramento também atende ao Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro”, conta o site. E o que fazer se até a areia está poluída? É recomendado aos banhistas uso de chinelos, cangas, toalhas e cadeiras, evitando contato direto com a areia.

Quanto à saúde da água, li em todos os consultados que deveriam ser tomadas medidas preventivas socioambientais, monitoramento mensal, ampliação da capacidade de tratamento de esgoto, tratamento e ampliação da rede pluvial (água de chuva, afinal é sabido que os índices pluviais são altos no litoral catarinense, com rotineiras enchentes) e as atuais anunciadas pelo prefeito: lacramento das saídas irregulares de residencias, hotéis, comércio, junto com multa e desassoreamento do leito dos rios e córregos.

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Entenda o caso: Norte da Ilha

O rio do Brás deságua no mar de Canasvieras está poluído, causando a proibição de banho nas praias próximas. A medida de tapar a foz foi a solução do prefeito César Souza e seus secretários para o problema de contaminação por esgoto, junto com outras ações mais lógicas.

Nesta semana, a prefeitura de Florianópolis deve lacrar 25 comércios no bairro. Segundo o site do Executivo municipal, começou na segunda-feira (11) a limpeza dos canais que ligam o Rio do Brás ao Rio Papaquara, no Norte da Ilha. Autoridades municipais e estaduais estiveram na área e decidiram as demais atividades: fiscalização nas ligações clandestinas de esgoto, tratamento biológico da água e o lacramento das saídas irregulares de esgoto de estabelecimentos comerciais.

De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, o problema só será sanado quando os 57% dos imóveis do entorno regularizarem seus sistemas de esgotamento sanitário. Somente no mês passado, o programa Se Liga na Rede notificou 243 casos; com o trabalho, 200 se adequaram, restando 43 para serem solucionados.

Ainda na segunda-feira, Souza esteve com representantes do trade turístico. Eles apoiaram as ações anunciadas pela Prefeitura e sugeriram elaborar um calendário que possa ser acompanhado mensalmente, com trabalhos que devem ser realizados em outros pontos da cidade, como, por exemplo, o desassoreamento do Rio Papaquara.

Paralelamente, a Secretaria de Educação de Florianópolis (SME) lançou o projeto Educa Ação de Verão, com apoio da Vigilância Sanitária, Defesa Civil municipal e estadual. A iniciativa traz uma série de ações educativas e preventivas voltadas às crianças.

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Doenças

Terça-feira, dia 12, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive/SC), em conjunto com a Secretaria de Saúde de Florianópolis, apresentou um relatório conjunto com dados preliminares sobre a investigação de surto de diarreia na região Norte da Ilha de Santa Catarina.

O relatório identificou um aumento de 500% no número de atendimentos pela infecção. Entre as últimas semanas de 2015 e primeira de 2016 passou de 200 para 1.200 casos registrados. A maior parte dos casos foi notificada na Unidade de Pronto Atendimento Norte. Pessoas de todas as idades, com quadros considerados leves.

Aproximadamente 70% das pessoas investigadas tinham frequentado praia, principalmente Ingleses (32%), Canasvieiras (20%) e Ponta das Canas (11%). Os demais se distribuíram em várias praias, especialmente as do Norte e Leste da Ilha. Tinham residência temporária ou permanente em bairros do norte da ilha, principalmente Ingleses (35%), Canasvieiras (14%) e Rio Vermelho (14%). Oficialmente, diz a investigação que não foi possível estabelecer vínculo com exposição hídrica, alimentar ou recreacional. Mas culpa as construções de ligar o esgoto de forma clandestina junto à rede fluvial.

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Números do Se Liga na Rede

Inspeções realizadas: 4.913

Imóveis inspecionados: 2.693

Número de ligações irregulares notificadas: 1.430

Obs: dados referentes aos bairros Canasvieiras e Cachoeira do Bom Jesus entre outubro de 2013 e dezembro de 2015

A Secretaria de Saúde de Florianópolis e a Dive/SC recomendam as seguintes medidas para a prevenção de diarreia para a população em geral:

Lavar frequentemente as mãos com água e sabão, especialmente após utilizar o sanitário e antes de se alimentar, preparar ou manipular alimentos.

Higienizar frutas, legumes e verduras com solução de hipoclorito a 2,5% (diluir uma colher de sopa de água sanitária para um litro de água por 15 minutos, lavando em água corrente em seguida, para retirar resíduos).

Evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos, principalmente frutos do mar (ostras, mariscos etc.)

Cuidado com água mineral falsificada de fonte ou procedência duvidosa, bem como gelo, “raspadinhas”, “sacolés”, sorvetes não industrializados, sucos e outros produtos de origem desconhecida.

Os funcionários que manipulam alimentos devem se afastar de suas atividades por um período mínimo de 3 dias após cessarem os sintomas, pois mesmo que não apresentem sintomas, podem transmitir o vírus para outras pessoas.

Lavar e desinfetar superfícies que tenham sido contaminadas com vômito e fezes de pessoas doentes, usando água e sabão e desinfecção com água sanitária.

Imagens: Prefeitura de Florianópolis

3 COMENTÁRIOS

  1. Nós avaliamos as condições sanitárias das areias de canasvieiras, o resultado foi de 5 vezes acima do limite para contato direto para E. Coli, considerando a resolução SMAC 468, encontramos 1600 UFC/g, quando o limite seria 300 UFC/g. E ao contrário do que tem sido publicado, ao nosso ver os casos são de bacterioses e e não apenas as viroses,

    • Agradecemos desde já pela preciosa confirmação sobre o estado perigoso das areias e os dados mais específicos. Pode entrar em contato com a autora da matéria também pelo e-mail: [email protected].

    • Por falar nisso, desculpe minha ignorância, mas onde são divulgados estes dados? Pergunto porque tendo este acesso, poderemos redigir matérias com estas informações. São análises de uma empresa? Um órgão municipal ou estadual? Só pelo nome próprio não identifiquei.

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