Por Koldo Campos.
Estávamos nos anos 60 e minha irmã Mey, que na época tinha 12 anos, um ano a menos do que eu, de repente, como que do nada, me fez uma daquelas perguntas que mudam a vida: “Por que eu tenho que arrumar sua cama?
Apesar de ser mais nova, Mey chegava a todos os compromissos pendentes da vida muito mais cedo do que eu e, além disso, ela era ainda mais bem documentada. Ela me ensinou a abrir portas que eu nem sabia que existiam, a fazer da criticidade uma ferramenta básica para a vida e a exigir espaços livres e iguais nos quais ninguém sacrificasse nada vital.
“Por que eu tenho que arrumar sua cama?”
Ela me fez a pergunta serenamente, sem se irritar, olhando-me nos olhos, como se não dependesse de minha resposta para saber. Na verdade, ela estava apenas me dando a oportunidade de parar de ignorar o fato de que, na casa da minha mãe, minhas duas irmãs tinham, entre outras obrigações, a de fazer a cama para nós três, meninos.
Desde então, nunca mais parei de arrumar minha cama. Mesmo na casa de repouso onde moro agora, ainda arrumo minha cama como agradecimento a Mey e sua memória, e como penitência por ter começado tarde. Há perguntas que mudam sua vida… se você ousar respondê-las.
(Preso politikoak aske)
Koldo Campos é escritor e jornalista basco-dominicano.
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