Perfil do manifestante do dia 15: eleitor de Aécio Neves, antipetista e de classe média

RonaldoPor Sturt Silva.

Diário Liberdade –  Pelas pesquisas realizadas em duas cidades, São Paulo e Porto Alegre, que tiverem protestos contra o governo Dilma (PT), no último dia 15, não há dúvidas: trata-se do eleitorado de Aécio Neves, candidato derrotado pela petista, nas últimas eleições.


Eu já imaginava, mas agora está comprovado em números. Se tiverem dúvidas em termos de credibilidade, repare que foram feitas por institutos de pesquisa de linha conservadora, como o Datafolha.

No geral, além de eleitores de Aécio Neves (76% no sul e 82% em São Paulo), os manifestantes são em sua maioria brancos (87,2% em Porto Alegre e maioria em São Paulo), com nível superior (mais de 70% nas duas cidades), de classe média e preocupados com a corrupção (o que se expressa principalmente através do antipetismo).

Em Porto Alegre o principal problema para 60% dos manifestantes é a corrupção. Saúde, educação e criminalidade ficam abaixo dos 10%. Em São Paulo quando perguntados qual era o motivo de ir às ruas, 47% disseram que é por causa da corrupção. Logo em seguida vieram o “Fora Dilma” e o (PT) Partidos Trabalhadores.

Em relação ao antipetismo os números também são significativos. Em São Paulo, a rejeição ao PT é muito maior do que qualquer outro partido político. Em Porto Alegre, o PT é visto com uma decepção e motivo para ir ao protesto. Em outras palavras: PT, governo Dilma e corrupção é quase a mesma coisa.

No que diz respeito à ocupação, em Porto Alegre 73,6% disseram que todos seus familiares estão empregados. Já em São Paulo o número de assalariados registrado é de e apenas 37%. Ou seja, parece que as respostas os enquadram bem num perfil de classe média que ganham altos salários, se compararmos com a média nacional, e que vivem de outros rendimentos.

Os números quanto à renda (maioria acima de 5 salários) e à escolaridade (acima de 70% com nível superior) são similares.

No tocante a São Paulo é possível fazer uma comparação com outra manifestação: a do dia 13, que segundo o mesmo Datafolha, contou com 41 mil pessoas.

Veja no infográfico abaixo:

15075478manifestação do dia 13 foi convocada pela Central Única dos Trabalhadores e outros movimentos sociais. Embora rotulada de governista, já que seus organizadores são da base de apoio ao governo Dilma, o que se pode observar nas repostas é que eles defendem mais pautas progressistas (direitos trabalhistas – 25% -, aumentos dos salários dos professores – 22% -, reforma política – 20% -, etc.) do que o governo Dilma em si (citado apenas por 4%), como alguns andaram especulando por ai. Mesmo em relação à avaliação do Governo Dilma e em sua relação com esquema de corrupção na Petrobras as respostas são equilibradas. Ou seja, não são tão acríticos hegemonicamente como sugeriram alguns.

Arte: Folhapress.

Aliás, o “dia nacional de lutas em defesa dos trabalhadores, da democracia, da Petrobras e pela reforma política” acabou sendo bem mais dinâmico do que a “marcha da família”, que por sua vez se hegemonizou num setor social.

Porém, a marcha do dia 13 acaba tendo em sua maioria pessoas de classe média (uso o termo como categoria sociológica), como a do dia 15, até porque a base eleitoral atual do PT não tem tradição de manifestação. Como disse Rudá Ricci em entrevista ao Diário Liberdade: “A base do Lulismo (e do PT) é a do PMDB: pobre e com baixa instrução, com baixo nível de organização política.” Então sobrou para os movimentos sociais mais institucionalizados, ou seja, para vanguarda ir às ruas. No entanto, a marcha do dia 13 conseguiu puxar mais gente da “classe C” (ou da classe trabalhadora) do que a do dia 15. É só olhar o fator renda: à medida que ela aumenta o gráfico fica decrescente para o dia 13 e meio crescente para o dia 15.

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maifestaçã 13 15A manifestação do dia 15, que teria reunido 210 mil pessoas na Avenida Paulista – segundo o Datafolha, não são majoritariamente pró-ditadura militar, como alguns andaram dizendo, embora a tolere (10% preferem ditadura nas repostas, os cartazes que pede a intervenção militar não são vistos como problema pela maioria, etc.). Mas tende a apoiar a ruptura da ordem democrática (o impeachment de Dilma é a segunda resposta: chega a 30% entre os motivos de ir ao protesto em São Paulo). Em Porto Alegre o caso é mais preocupante. A maior parte dos manifestantes é a favor do impeachment, mesmo não tendo base legal. Para depois ocorrer novas eleições, não respeitando assim a atual lei que determina que quem deve assumir é o vice, Michel Temer. Ou seja, não aceita o resultado das urnas e a escolha da maioria. E mais: não estavam em “Junho” de 2013. Essa turma é outra (74% foram pela primeira vez a um protesto em São Paulo).

Foto: São Paulo – Manifestação do dia 13 (à esquerda), manifestação do dia 15 (à direita).

Se as ruas estavam em disputa em Junho, agora elas são majoritariamente controladas pela direita. Talvez, não seja a direita dos partidos políticos, mas é uma direita sem experiência política e tradição democrática. Também é intolerante às organizações políticas e a própria política em si. Tem como principal bandeira o combate à corrupção, mas não produz propostas políticas nesse sentido, nem mesmo parece entender o problema em sua profundidade. Além disso, mantêm um ódio tremendo ao Partido dos Trabalhadores. Um cenário ideal para oportunistas, desastroso para esquerda e perigoso para nossa frágil democracia.

Sturt Silva é formado em História, blogueiro e editor adjunto do Diário Liberdade.a

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