Por Carlos Henrique Pianta.
Estava hoje no enterro de um amigo e de um companheiro de luta chamado Mosquito e batizado de Amilton Alexandre.
Um enterro emocionante, todavia com pouca gente presente. Mas quem se importa com a morte dele, afinal, o Mosquito era um louco. Louco porque, logo aqui, na maravilhosa terra dos funcionários públicos e paraíso dos empresários, ele resolveu ser crítico.
Uma cidade provinciana, de interior, mesquinha e conservadora, fantasiada de capital, mas que ele amava diferente do ídolo desta capital não participou do circo midiático, reclamando da falta de segurança e ameaçando ir embora, Mosquito ficou, lutou, foi preso, perseguido e morreu cansado, sem emprego e sem esperança. Independente de ter sido vítima de um assassinato, ou de um suicídio, a morte de Mosquito tem vários culpados, cujos nomes ele sempre deixou claro. São culpados desta morte Dário Berger, Leonel Pavan, Raimundo Colombo, Família Sirotsky, os três poderes deste Estado, que podres, são apenas uma ferramenta da burguesia catarinense, que utiliza o poder público pra enriquecer as empreiteiras, calar a voz do povo e ratificar as desigualdades.
Na sexta-feira, dia 9, ele me ligou, reclamou de estar desempregado e de ser perseguido. A ditadura militar acabou, me dizem da TV que vivemos numa democracia, que somos livres. Descobri que a TV não me diz que vivemos numa ditadura civil, que serve ao grande capital e aos interesses politiqueiros dos engravatados do setor privado e suas marionetes do setor público.
Moramos no lugar em que o povo idolatra os que carregam raquetes, enquanto vira as costas pra quem passa fome, pra quem não tem onde morar, quem não tem sequer água limpa para beber. Mosquito fez o contrário, não se acomodou e sempre expôs tudo aquilo que via de errado, sempre buscando direitos iguais a todos.
Enquanto Mosquito estava sendo velado e enterrado, a RBS organizava uma festa para a família de seus funcionários. Não muito longe da emissora, uma família sofria a perda de um guerreiro, de alguém cuja vida foi destruída pela desonestidade dos donos de Florianópolis. Alias, destruir famílias é o forte da família mafiosa que controla os meios de comunicação em Santa Catarina. Se não é estuprando pré-adolescentes, é cerceando a liberdade de imprensa, censurando e escondendo verdades. A RBS silenciou o estupro e agora quer silenciar a morte e a importância do Amilton.
Da mesma forma que Mosquito, eu sou um louco que não vai se calar frente à desigualdade, à corrupção e ao descaso com o povo. Tenha certeza, caro amigo, que muitos outros mosquitos continuarão seu trabalho, eu sou um deles, e tenho certeza que muitos outros também vão tomar a frente nesta luta. Um abraço de um amigo, companheiro e fã.
Sou da elite sim, e daí. Tás com inveja?
Triste e revoltante ver como Florianópolis é uma cidade explorada por uma classe dominante e que a grande parte da sua população simplesmente abaixa a cabeça para isso. Mosquito era uma exceção, e uma exceção de grande valor porque ele apontava o dedo para os que estão em cima esmagando os de baixo. Tudo isso me lembra uma frase do Marighella: “é preciso não ter medo, é preciso ter a coragem de dizer”.