247 – O jornalista investigativo Pepe Escobar opinou sobre a prisão do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que ocorreu na última quinta-feira (11) na embaixada do Equador em Londres. Ele afirmou que a prisão contraria todas as leis internacionais e que a ação não poderia ter sido realizada pela polícia metropolitana de Londres dentro da embaixada equatoriana.
“A gente estava esperando que isso acontecesse, mas na hora que acontece o impacto é muito grande. Nós, jornalistas, sabemos que isso, em termos de atentado a jornalismo investigativo, liberdade de imprensa e a toda essa palhaçada gigantesca cuspida pelos líderes do ocidente sobre os valores ocidentais, isso é um tremendo absurdo. É um atentado contra todas as regras e leis internacionais, de direito de asilo, passando por todo tipo de direitos humanos de livre expressão, arrancado de dentro de uma embaixada pela polícia metropolitana de Londres, que não tem jurisdição dentro de uma embaixada de um país terceiro, em solo inglês e levado carregado para dentro do camburão”.
Ao ser arrastado para fora da embaixada do Equador, Assange empunhava um livro do escritor e ativista político Gore Vidal. Por isso, a prisão foi transformada num ato político por Assange, interpreta Pepe. “A história do livrinho é maravilhosa, é um livro que traz uma série de entrevistas do Gore Vidal falando de como foi montado o estado de segurança nacional dos Estados Unidos. O Julian é muito esperto, ele sabia que todo mundo ia focar no livro. Ele fez questão de mostrar isso para todo mundo, fazendo a conexão direta entre a imagem que ele sabia que ia ser gravada e o conteúdo para fazer a ligação dessa imagem. Isso é sensacional, é um golpe de relações públicas de extrema sofisticação. Ele transformou a prisão em um ato político porque todo mundo que acompanha o caso desde o começo sabe que é um ato político e que essa prisão foi política”.
Escobar também explicou a relação entre a liberdade de expressão e o motivo de Assange não ter sido preso anteriormente. “Durante a geração Obama eles viam que não podiam condenar o Assange e ao mesmo não condenar o New York Times e o Guardian, por exemplo, porque eles publicaram a mesma coisa que o WikiLeaks publicou. Eles sabiam que, de um ponto de vista legal, era impossível processar o WikiLeaks e não processar o New York Times e então abandonaram a ideia”.
As coisas mudaram com a administração de Donaldo Trump, desde 2017, acrescenta, citando o ‘vazador’ histórico Daniel Ellsberg, que “está no topo da pirâmide por causa dos ‘Pentagon Papers’ e agora, Chelsea Manning e Julian Assange também, especialmente por causa de todos aqueles documentos relativos a duas guerras absolutamente abomináveis, Afeganistão e Iraque”.
Outro fator que permitiu a prisão do australiano foi, segundo Pepe Escobar, uma negociação entre o governo norte-americano e o equatoriano, de Lenín Moreno. “O departamento de justiça conversou com o Equador e falou: ‘é o seguinte, a gente sabe que vocês estão muito mal de grana. Vocês querem um empréstimo do FMI? Trump ordena amanhã o empréstimo de US$ 4,2 bi que vai salvar vocês a curto e médio prazo, mas tem uma condição: revogar o asilo do Assange'”.
Sobre uma possível intervenção do governo australiano, o entrevistado acredita que isso não irá acontecer. “Estava conversando com amigos australianos e eles estão horrorizados. Ao mesmo tempo me disseram, o que é mais do que previsível com esse governo atual da Austrália, que não vão erguer um dedinho mínimo, como não fizeram até agora”.