Pediram para avisar…Estão todos/as bem…

Por Claudia Weinman, para Desacato. Info. 

18 de junho de 2016. Sábado foi um dia bastante frio. Mas cada barraco tinha seu fogão de lenha improvisado. Um final de semana de formação para as mais de 240 famílias acampadas na Floresta Nacional, entre Chapecó e Guatambú-SC. Estava acontecendo um momento de estudo, de assembleia, de organização entre o povo. A gente foi chegando e ouvindo apenas. Depois, em cada barraco de lona que a gente passava, alguém dizia: “Tira uma foto e envia para minha filha, diga que estamos bem” … E assim se fez….

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Assembleia no acampamento Marcelino Chiarello.

Um acampamento tem suas dificuldades. Ainda mais agora, nesse período de inverno. O chão de terra que com a chuva forma o barro, a roupa que não seca mesmo estando há três dias estendidas no varal. Começa a faltar roupa, a sentir mais frio, mas também, aparecem as doações, sacolas e sacolas que não param de chegar, e o povo vai se organizando. Um ajuda de um jeito, outro de outro, e assim vai se construindo o coletivo.

Em um dos barracos, convidam para a prosa. Um grupo jogava baralho e conversava, a água era esquentada para o mate. Pode ser que alguém diga: “Mas esse povo só joga baralho! Não trabalha” …. Convenhamos, o que fazer num sábado à noite, momento de reunião da família, muitas que se formaram ali, juntando o pouco que tinham? Depois de um dia de intenso trabalho, os trabalhadores/as também merecem descanso, alegria, entretenimento. O baralho, o chimarrão, a conversa. É tão bom quando a televisão e os canais conservadores não fazem falta. Quando a prosa é mais importante que qualquer novela da Globo!

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Coletividade no acampamento.

Osvaldo Marques de Siqueira, 45 anos, era morador do município de Paraíso. Está na luta por terra, trabalho. “Parar de sofrer com essa vida de peão de fazenda. Me criei trabalhando em madeireira. Casei, daí comecei a trabalhar em fazenda, fazendo cerca, enfrentando frio, chuva, os piores lugares para trabalhar davam pra gente. E o cara tem que sustentar a família. Mas agora, vamos lutar com nossas garras por um pedacinho de terra, é o suficiente, ter só o necessário para viver”.

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Osvaldo Marques de Siqueira, 45 anos.

Uma Floresta de Pinos

A Floresta Nacional, ocupada no dia 04 de junho de 2016, é tida como área de preservação pela Justiça. No entanto, segundo o Militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, (MST), Edivaldo Carvalho, a maior extensão da floresta possui plantação de pinos, e não cumpre segundo ele, com a função social. “Já fizemos a denúncia e aguardamos um parecer do Incra que deve reconhecer esta denúncia e tomar as providências”.

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Enquanto o movimento trabalha nesta denúncia, o povo vai se organizando. Resistir e combater o frio, por enquanto. As crianças têm ido à escola, o povo tem trabalhado para garantir estrutura ao acampamento Marcelino Chiarello, e como em outras lutas realizadas junto ao movimento, nada será fácil, mas uma única certeza permeia esse contexto: a terra pertence a quem cuida dela. E assim será.

 

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