Teatro com escuta diferenciada: Para celebrar 33 anos, o grupo Dromedário Loquaz organiza um baile no Museu da Escola Catarinense
Os 33 anos do Grupo de Teatro O Dromedário Loquaz, criado em 1981 pelo diretor Isnard Azevedo, serão marcados com um espetáculo cênico e sonoro que, de acordo com os interesses de seus integrantes, será um divisor de águas nesta trajetória. “Rádio Loquaz – ZYK 693 Pausas de Se Ouvir” aposta na realização de um baile com transmissão radiofônica ao vivo.
O rádio é o fio condutor da peça que faz um convite para viver uma experiência, e busca uma celebração com o público. A concepção adota elementos da radionovela e dos programas jornalísticos. Contemplado com nota máxima pelo Prêmio Myriam Muniz 2013, concedido pelo Ministério da Cultura por meio da Fundação Nacional de Artes – Funarte, o projeto quer proporcionar uma experiência inusitada no Museu da Escola Catarinense, em Florianópolis (SC). A pré-estreia será no dia 5 de novembro, às 21h.
O novo trabalho catalisa a contribuição do grupo à história e ao circuito teatral de Santa Catarina. O desejo de uma nova linguagem instaurou um processo de criação coletiva. De um argumento simples, desenvolveu-se a pesquisa, com relatos e improvisações. A peça constrói uma dimensão de escuta diferenciada da cena – retira da linguagem do rádio elementos estruturantes para a dramaturgia. A viagem sonora, com um pouco mais de 60 minutos, se dá por diferentes estímulos e qualidades do som, como vozes, música, gravações, o piano e os ruídos. O percurso é preenchido pelo espectador com suas próprias memórias e percepções. A dimensão da escuta compartilhada ainda subsiste na arte teatral: dezenas de pessoas se reúnem em um local e ouvem/vêem juntas um acontecimento – uma ação coletiva significativa que perde cada vez mais espaço na atualidade, tempo de Ipods, celulares ou tecnologias que resultam em isolamento e solidão. O hábito de ouvir rádio em conjunto e no silêncio ficou no passado.
A atriz e cantora Barbara Biscaro foi especialmente convidada para assumir a direção cênica. A coordenação geral é de Sulanger Bavaresco, atriz, diretora e presidente do grupo. No elenco estão Cezar Pizetta, Diana Adada Padilha, Eugênio Menegaz, Giovana Rutkoski, Márcia Krieger, Vilson Rosalino da Silveira e Sérgio Bellozupko.
Para a concepção, que tem como ponto de partida a linguagem e o universo do rádio, a diretora propôs o exercício de construção dramatúrgica desenvolvido simultaneamente com o elenco, com ênfase no trabalho corporal e vocal do ator. O estudo do movimento do corpo e da voz no espaço, a criação de materiais que partem de textos, objetos e sonoridades é um mergulho profundo na questão da corporalidade na cena. Barbara tem sólida trajetória no trabalho de preparação de atores e pesquisa no desenvolvimento de dramaturgias cênicas contemporâneas. Atuou com diferentes núcleos artísticos catarinenses e na realização de espetáculos solos, nas quais dirige e atua ao mesmo tempo. Tem experiência nacional e internacional (Argentina, Itália, País de Gales) na proposição de oficinas para atores e cantores. O convite do Dromedário Loquaz surgiu do interesse em diversificar o repertório e apostar em diferentes caminhos de construção cênica.
O processo, além de dar continuidade à trajetória do grupo, de relevância em Florianópolis, envolve novos e antigos integrantes. O Museu da Escola Catarinense, imponente construção do fim do século 19 com um propósito urbanístico modernizador para a cidade, por si só se constitui no melhor cenário para esse baile.
“Rádio Loquaz – ZYK 693 Pausas de Se Ouvir” estabelece com o público relações de duas naturezas: a presencial, com aqueles que assistem ao espetáculo, e a ausente, com os que escutam em casa a transmissão da peça através da internet. Além de resgatar as transmissões com plateia praticadas nas rádios das décadas de 1940 e 50, instaura uma dimensão dupla para os acontecimentos em cena. Os atores e atrizes são vistos e ouvidos, estão materializados para o espectador e são transformados em onda sonora para o ouvinte distante.
Não se trata, segundo Biscaro, de uma reconstituição nostálgica de uma rádio do passado. “É um acontecimento presente, que mistura ficção e realidade para propor uma experiência artística. A memória e a reminiscência são elementos constantemente evocados: as lembranças do grupo se misturam com a ficção criada pelos atores e atrizes; o resgate de vozes que já se foram, como a de Isnard Azevedo e Sylvio Mantovani; o desejo de uma celebração da resistência de uma companhia teatral com mais de 30 anos de trajetória. As vozes do passado, sem rosto e sem tempo, se misturam com as vozes do presente. Aliás, presença e ausência formam um jogo constante: as vozes dos vivos, dos mortos, dos desconhecidos, de um passado perdido e do futuro estruturam um percurso no qual o personagem principal é a Rádio Loquaz, em sua dimensão ficcional e real enquanto grupo teatral.”
Sulanger Bavaresco situa o clima de celebração: “Há algum tempo queríamos realizar um projeto com um elenco maior e linguagem contemporânea. A ideia de criar algo sem dramaturgia prévia foi bem aceita e a presença da diretora convidada, Barbara, tornou viável a realização. Partimos de um argumento simples, a velhice e a força do rádio no passado, um mote para olharmos a própria história, relembrar momentos pessoais e do grupo. O espetáculo possibilita dar voz aos ausentes e aos atores no tempo presente, além de projetar em voz os desejos futuros”.
Ficha Técnica
Autoria: Grupo de Teatro O Dromedário Loquaz
Direção: Barbara Biscaro
Elenco: Cezar Pizetta, Diana Adada Padilha, Eugênio Menegaz, Giovana Rutkoski, Márcia Krieger, Vilson Rosalino da Silveira e Sérgio Dimas Bellozupko
Preparação vocal e corporal: Barbara Biscaro
Pesquisa musical e trilha: Eugênio Menegaz, Barbara Biscaro e Dimitri Camorlinga
Iluminação: Marco Ribeiro
Cenografia: Grupo de Teatro O Dromedário Loquaz
Figurinos: Adriana Barreto
Captação/edição de áudio: Dimitri Camorlinga
Play list baile: Julia Maria Bavaresco
Visagismo: Puka Saraiva
Apoio técnico: Maria Zélia Goulart, Magda Scors e Regina Prates
Design gráfico: Mariana Barardi
Ilustrações cartaz: Cezar Pizetta
Fotografia: Cristiano Prim
Assessoria de imprensa: Néri Pedroso e Paloma Brum (ass. de comunicação)
Coordenação geral: Sulanger Bavaresco
Produção: 5M Técnicas Teatrais
Realização: Funarte e Grupo de Teatro O Dromedário Loquaz
Apoio cultural: Diretoria de Difusão Artística – Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e Museu da Escola Catarinense (Udesc)
Serviço
O quê: Espetáculo “Rádio Loquaz – ZYK 693 Pausas de Se Ouvir”
Quando: Dias 5 (pré-estreia para convidados), 6, 7, 8, 9, 28/11, às 21h; dias 29 e 30/11, às 20h e 22h
Onde: Museu da Escola Catarinense, Rua Saldanha Marinho, 196, Centro, Florianópolis, tel.: (48) 3225-8658
Quanto: R$ 20 / R$ 10 (meia) – pelo telefone (48) 9971-3128
Saiba mais: O Dromedário Loquaz e Facebook
Transmissão ao vivo da Rádio Loquaz
Fotos: Cristiano Prim/Divulgação