Por Francisco Fernandes Ladeira.
O Partido da Causa Operária (PCO), supostamente à extrema esquerda no espectro político, tem se superado a cada novo posicionamento alinhado ao bolsonarismo. Durante a pandemia da Covid-19, a pauta da vez foi seguir o “mito” e suas ideias negacionistas. Recentemente, houve a defesa histérica dos jogadores bolsonaristas Robinho e Daniel Alves que, como é de conhecimento público, foram condenados por violência sexual, mas, segundo a realidade paralela do PCO, fazendo coro com a extrema direita, são apenas pobres coitados perseguidos pelo globalismo.
Já a última polêmica foi defender ninguém menos do que Elon Musk. Isso mesmo! Um partido que se vende como “causa operária” atuando em favor de um bilionário e, o que é pior, ligado à principal potência imperialista do planeta: os Estados Unidos. Mas a tradição deve ser mantida, o PCO não pode ver alguém de extrema direita, que logo sai em sua defesa. O argumento para apoiar Musk, como todos os bolsonaristas têm na ponta da língua, é a “defesa da liberdade de expressão e combate à censura”.
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Se o PCO quis chamar a atenção com esse teatro, devo admitir: conseguiu. Foi manchete na mídia conservadora (Do Uol à Revista Oeste), notícia negativa na imprensa progressista, como de costume (DCM, Fórum e Brasil 247), e ganhou rasgados elogios de bolsonaristas nas redes sociais. Após uma postagem no Instagram do PCO, sobre o apoio a Elon Musk, foram observados comentário como:
“Eu sou de direita e to te amando pco”, “Calma aí pco se vcs continuarem com essa coerência serei obrigado a votar em vcs em 2026”, “Novamente eu concordando com o pco… virou rotina!” e “O PCO é a única esquerda moralmente lúcida que temos no Brasil, é um prazer concordar com vocês em alguns aspectos por mais que eu não seja de esquerda, eu estou tendo um apreço enorme a coerência de vocês, parabéns”.
E as semelhanças PCO-bolsonarismo vão além do campo discursivo. Ambos possuem um culto à personalidade do líder (considerado infalível), domínio de uma família política, comportamento típico de seita e fanatização dos militantes (dispostos a defender incondicionalmente sua ideologia, mesmo os maiores devaneios). Se, para toda crítica a qual se deparam, os bolsonaristas recorrem ao mantra “E o Lula, E o PT?”, em situação similar, os militantes do PCO dizem: “E a esquerda pequeno-burguesa?”.
Mesmo a defesa da liberdade de expressão e o combate à censura são meras retóricas. Variam de acordo com a conveniência. No caso do PCO, inclusive, ex-membros criaram o website “Partido Censurador Oficial” para denunciar, entre outras questões, justamente, como esta organização partidária persegue e busca calar ex-membros, para que eles não divulguem o real funcionamento do PCO (um modus operandi similar ao das Testemunhas de Jeová).
Conforme prints de conversas de grupos de WhatsApp formados por integrantes do PCO, apresentados na página do Facebook “Partido que Censura os Outros”, o PCO organizou uma campanha para denunciar e derrubar uma simples página de memes sobre o partido. Ainda na rede social de Mark Zuckerberg, não é raro que determinados perfis sejam bloqueados e impedidos de comentar em postagens do PCO (geralmente “esquerdistas incômodos”, haja vista que, para a extrema direita, o acesso sempre é livre).
Além disso, no próprio andamento do partido há forte censura interna a qualquer tipo de posicionamento que destoe do pensamento dominante. Já na redação do principal veículo de imprensa (Diário Causa Operária), há uma espécie de Index, indicando quais palavras são proibidas nos textos assinados pelos militantes do PCO.
Em suma, a lógica do Partido da Causa Operária é a seguinte: “liberdade de expressão” desde que não nos atinja ou escrevam e digam o que concordamos. Caso contrário, a censura é bem-vinda.
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Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp e pós-graduando em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu
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