Pazuello confirma: Bolsonaro participou de decisão de não socorrer crise de oxigênio em Manaus

Ex-ministro confirmou em depoimento na CPI da Covid que presidente esteve em reunião que tirou garantia de segurança na compra de vacina

Senador Randolfe Rodrigues questionou sobre tuíte apagado pelo Ministério da Saúde após crítica de Bolsonaro .Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, atribuiu, em seu depoimento à CPI da Covid, algumas decisões tomadas durante a combate à pandemia “ao governo“, sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro. Para senadores que conduzem a oitiva, Pazuello ‘protege o verdadeiro responsável’.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) criticou a falta de ações para responder à proposta de aquisão da Pfizer. O ex-ministro da Saúde confirmou que a transferência de tecnologia e análise de custos das doses foi uma das métricas para o governo não comprar a vacina. “A Constituição Federal coloca a defesa máxima da vida como valor máximo. Ou seja, vossa excelência errou”, rebateu Vieira.

Uma outra versão foi apresentada na CPI. Na terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo disse que Ministério da Saúde negociou com Covax Facility. Porém, hoje, Pazuello disse aos senadores que a negociação foi da Casa Civil, mas reafirmou que a decisão de aderir a apenas 10% da compra foi dele. “Numa política pública em geral, o senhor falhou, e não foi por decisão sua. O senhor tem uma lealdade que acoberta o verdadeiro responsável”, acrescentou o senador.

Reunião com Bolsonaro

À CPI da Covid, o ex-ministro Eduardo Pazuello voltou a afirmar que teve a assessoria jurídica para recusar a aquisição da vacina da Pfizer, que só entraria com pedido de registro da vacina com a assinatura do memorando de entendimentos.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou o depoente sobre a minuta da Medida Provisória que incluía uma cláusula para dar segurança jurídica à compra de vacinas discutida ainda no ano passado, mas foi editada e tirou o dispositivo de segurança, o que atrasou a aquisição.

Eduardo Pazuello disse que houve uma discussão sobre o dispositivo, que contou com a presença de Bolsonaro e não teve consenso sobre o tema. O senador então questionou se o retirou a cláusula. “Foi o governo com seus ministros”, respondeu o general. “Foi o governo. Está esclarecido”, afirmou Rodrigues.

Bolsonaro também esteve presente na reunião ministerial que decidiu por uma ‘não decisão’ do governo federal durante o colapso de oxigênio em Manaus. Randolfe perguntou se o presidente decidiu na decisão e Pazuello só respondeu que “foi decidido na reunião”. “Que conste nos autos da CPI essa informação”, pediu o senador.

Tuíte apagado

Randolfe Rodrigues também perguntou o motivo para o Ministério da Saúde demorar dois meses para comprar da Coronavac. Ele questionou que o contrato com o Instituto Butantan foi assinado depois de anunciado pelo governador Doria e lembrou que a Anvisa afirmou que não havia necessidade de aprovação da vacina para efetivar a compra.

Ele também voltou a citar o termo “um manda, outro obedece”, dito meses atrás pelo ex-ministro sobre sua relação com Bolsonaro. Pazuello voltou a negar, durante a CPI da Covid, que houve interferência do presidente em sua gestão. Porém, o senador da Rede mostrou um tuíte do perfil do próprio Ministério da Saúde com o anúncio do acordo com o Butantan, mas que foi apagado após a bronca de Bolsonaro.

O general Pazuello gaguejou na resposta, mas negou que deu a ordem. “O Twitter é da equipe de comunicação. Eu nem tenho Twitter. Eu não mandei tirar nada”. Randolfe concluiu: “Então, foi o presidente que deu a ordem”.

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