Paulo César Feital e Lucas Bueno: pisam no chão Brasil de pés descalços, por Luiz Carlos Prestes Filho
Por Luis Carlos Prestes Filho
Existe uma sensação criança nas obras realizadas pela dupla Paulo César Feital e Lucas Bueno. Para o primeiro as referências são as crianças de 100 anos atrás, para o segundo são as crianças de 30 anos.
Para o primeiro é a memória da escravidão; da Tia Ciata; da Semana de Arte Moderna; da fundação do primeiro partido de esquerda no pais – o Partido Comunista Brasileiro (PCB); do levante dos 18 do Forte de Copacabana; da Coluna Prestes; da Revolta Armada Comunista de 1935; e da resistência aos golpistas de 1964. Para o segundo é a memória das lutas pela Anistia Política de 1979; da campanha das “Diretas Já”; e das eleições democráticas dos últimos 30 anos.
Todos esses fatos elencados vêm à cabeça quando ouvimos o conjunto de obras gravadas.
O Feital e o Lucas dialogam sobre as inquietações das gerações que construíram o que vivenciamos hoje no país. Eles não têm qualquer receio de expor a contradição da contradição do momento que vivemos.
Na minha opinião eles apresentam recortes exatos da realidade, fotografam temas e as personagens fundamentais das lutas que travamos para chegar até este ano de 2019.
Claro, vão além. Ao nominalmente evocar os nomes de mulheres e homens que deram corpo a alma brasileira eles fundem suas gerações. Em determinado momento o Feital passa a ser um jovem inexperiente e ingênuo. O Lucas um homem vivido/cansado de apanhar.
Quem é o corpo e quem é a sombra? Quem mais viveu e quem mais estudou? Quem mais amou e quem mais sonhou? Fica a dúvida quando terminamos a audição.
Fica – também – a certeza de que as crianças de 100 anos atrás e as crianças de 30 anos atrás eram diferentes. Mas todas elas andavam de pés descalços pelos chãos de terra batida do Brasil.
Tirem os sapatos para ouvir esse conjunto de fé e de convicção. O Brasil já deu certo!
*Especialista em Economia da Cultura e filho do Cavaleiro da Esperança Luiz Carlos Prestes