Por Nicolas Chernavsky, Culturapolitica.info.
Nos últimos anos, finalmente os corintianos conseguiram superar as barreiras para se discutir publicamente o anticorintianismo; está na hora dos petistas fazerem o mesmo.
Sou corintiano desde pequeno. Até pouco tempo atrás, achava que a razão de eu ser corintiano era basicamente que meu pai também era corintiano. Eu estava enganado. Havia uma razão para meu pai ser corintiano, e essa razão também existia em mim. Ao longo da vida, sempre percebi que o Corinthians, mais do que qualquer time que eu conhecesse, despertava mais simpatia e mais antipatia, simultaneamente. Ou seja, ao mesmo tempo em que era o time individualmente com mais torcedores, era o que despertava uma antipatia proporcionalmente muito maior do que os outros times, pelo menos no estado de São Paulo, que eu conhecia melhor. Poderia-se argumentar que essa antipatia seria justamente pelo time ter mais torcedores, mas essa antipatia era proporcionalmente muito maior do que a superioridade quantitativa dos torcedores do Corinthians. Teria que haver outra explicação. Por que a tendência dos torcedores de futebol a se posicionar (com simpatia ou antipatia) era muito maior com o Corinthians do que com os outros times?
Bom, pelo título deste artigo, já sabem que creio que um fenômeno semelhante ocorre na política brasileira. Existe um partido político, o PT, que ao mesmo tempo em que individualmente tem a preferência do maior número de pessoas, atrai também um sentimento claramente específico e relativamente amplo de antipatia. Claro que em relação a outros partidos também há uma certa quantidade de antipatia. Mas nesse aspecto, nenhum se compara ao PT. Ou seja, tal como o Corinthians no futebol, é fato que os eleitores brasileiros têm uma tendência muito maior a se posicionar em relação ao PT, tendo simpatia ou antipatia, do que em relação a qualquer outro partido político. Isso explica por que se usa tanto os termos “anticorintiano” e “antipetista”. Qual é a relação profunda entre eles?
Desde pequeno, ao mesmo tempo em que eu identificava a ampla existência do anticorintianismo, também percebia que o assunto dificilmente era abordado publicamente pelos corintianos. Parecia haver uma certa vergonha em abordar o assunto, como se os corintianos temessem que emergisse aquele motivo pelo qual é tão forte o anticorintianismo. Isso mudou de uns anos pra cá, tanto que os corintianos criaram um termo, os “anti”, pra designar os anticorintianos.
O assunto do anticorintianismo, com a maravilhosa ferramenta das redes sociais, acabou se tornando um assunto público, e os corintianos superaram, pelo menos um pouco, a vergonha de abordar o tema. Creio inclusive que o anticorintianismo até pode ter se reduzido no Brasil, o que é muito difícil de se afirmar com certeza. Mas o fato é que houve um importante progresso em direção à redução da antipatia específica ao Corinthians, ou assim espero. E em relação ao PT? Chegou a hora de acontecer algo semelhante. Isso significa que petistas, antipetistas e a sociedade em geral podem refletir e debater publicamente sobre o porquê dessa especificidade em relação ao PT. Os petistas poderiam também perder a vergonha de mencionar publicamente o antipetismo e questionar o que faz com que muita gente prefira praticamente qualquer partido (que tenha um número mínimo de assentos no parlamento) ao PT.
Claro que este é um fenômeno que, no mundo, não ocorre somente com o Corinthians, como time de futebol, e com o PT, como partido político. Qual é motivo profundo então do anticorintianismo e do antipetismo, e de todas as suas variações ao redor do mundo? A resposta ampla é complexa demais para este artigo, mas creio que uma pista para chegarmos a ela está em refletir sobre o medo inconsciente (ou consciente) que existe na sociedade, inclusive a brasileira, das instituições que organizam os setores sociais com menos poder na sociedade, dando-lhes mais poder. E qual é esse setor social com menos poder na sociedade? Por incrível que pareça, é simplesmente o povo, ou seja, a imensa maioria das pessoas, diferentemente de uma pequena parcela da sociedade que é extremamente poderosa.
Assim, o “time do povo” e o “partido do povo” representam a transferência de poder de um setor em que esse poder está extremamente concentrado para setores mais amplos da sociedade. O medo dessa ampliação do círculo de poder na sociedade gera o anticorintianismo e o antipetismo. Isso inclui, obviamente, pessoas com pouco poder na sociedade, mas que preferem uma distribuição extremamente desigual do poder. Mas enfim, isso é uma discussão longa. Estão todos convidados a fazê-la!
Fonte: Cultura Política