Por Paula Guimarães.
Experiência será transformada em livro
Mão no barro e inúmeras possibilidades, num jogo onde o que vale é a imaginação e criação. Esse é o Paralelepípedo Poema, aprovado pelo edital Elisabete Anderle, que pretende auxiliar no processo de letramento de alunos do ensino fundamental, além de ser uma via para a poesia e formação de novos leitores. As portas da escola municipal Virgílio dos Reis Várzea, em Florianópolis, se abrem no início de agosto para as oficinas de música, literatura e cerâmica, regadas a muita poesia. O resultado será registrado num livro para que a ideia possa ser replicada e ampliada em outras escolas.
O jogo
Paralelepípedo Poema é um jogo de formação de murais de seis palavras dispostas verticalmente, uma a uma, no formato de poema chamado de aldravia. Consiste na busca de um poema com um mínimo de esforço e o máximo de significado, conforme o espírito poundiano de poesia. “É uma forma divertida de formar sons, palavras, frases e poemas. As palavras que saltam formam novos sons. Inusitados, esses aguardam outras palavras que esperam sentido e vez”, explica o músico e poeta Marcoliva, idealizador do projeto.
Como educador em oficinas de arte, Marcoliva percebeu a dificuldade de crianças, já com idade avançada, de formar palavras e buscou desenvolver uma ferramenta lúdica que auxiliasse no letramento. O paralelepípedo – nome em referência ao bloco de concreto que se encontra nas calçadas – será confeccionado pelos próprios alunos nas aulas de cerâmica. “O objetivo é trabalhar questões relacionais, psicomotoras, cognitivas e sensoriais, criando um jogo feito pelos participantes a partir do barro”, assinala o músico.
A criança como protagonista
São também as crianças que irão determinar qual fonema, sílaba ou palavra irá compor cada uma das seis faces do cubo. A brincadeira é jogada por um grupo de seis crianças. “Somando ao todo seis símbolos, letras, sílabas, ou palavras, que entre si encontrem algum sentido ou margem a diferentes interpretações”, explica Marcoliva.
A divisão entre aprender e brincar, comum nos sistemas de educação formal, perde a vez nesse jogo capaz de despertar o encantamento dos alunos diante das infinitas possibilidades. Não há lugar para o erro, a criança é protagonista e, como tal, tem o poder de criar palavras ou expressões novas ou atribuir novos sentidos a palavras existentes.
Para a educadora Patrícia Pereira, o uso do lúdico no processo educativo tende a envolver mais as crianças, principalmente na alfabetização. “Poesia não deixa de ser um jogo, uma brincadeira com as palavras. Tudo que é jogo, é divertido e ajuda nesse processo quando se tem um objetivo a alcançar”, afirma.
Livro
Toda a rotina do projeto será registrada num livro, no qual irá conter o passo a passo para confecção do jogo, além de relatos dos participantes e professores envolvidos, para que o leitor possa desenvolver seu próprio jogo. Mil exemplares serão distribuídos de forma gratuita, especialmente em escolas e bibliotecas públicas.
Exemplos de Aldravias
palavra
arma
eficaz
para
fazer
paz
Marilza de Castro – Rio de Janeiro – RJ
abelha
morta
menos
mel
no
pote
Marisa Godoy – Ponte Nova – MG
as
mãos
calejadas
de
tanto
sonhar
Marcoliva – Florianópolis – SC