Por Marcelo Aguilar.
No próximo domingo (30/04), o Paraguai escolhe o novo presidente, com uma eleição de um único turno, renovando também o Congresso Nacional.
A última pesquisa Atlas Intel, divulgada nesta terça-feira (25/04), mostra um empate técnico entre o candidato do histórico Partido Colorado (ANR) Santiago Peña (33%), e o da coalizão opositora, Efraín Alegre (34%).
Os colorados dominam de forma contínua a política do país desde 1947, tendo atuado também como suporte político para a ditadura do general Alfredo Stroessner, a mais longeva do continente (1954-1989). Aliás, o atual presidente dos país é filho do secretário pessoal do ditador.
A única interrupção desse domínio ocorreu em 2008 com a vitória do religioso progressista Fernando Lugo, que iniciou um processo de transformação interrompido após um golpe político ocorrido em 2012, com o massacre de Curuguaty como desculpa.
ANR chega à eleição dividida, com um racha entre seus dois principais líderes, ambos da ala mais direitista do partido, o ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018) e o atual, Mário Abdo (desde 2018). Porém, Peña, candidato escolhido e impulsionado por Cartes, tem grande chance de vencer. Peña foi ministro da Fazenda no governo Cartes e ex-funcionário do FMI. Cartes e seu vice foram sancionados pelo governo dos Estados Unidos em janeiro deste ano — acusados de pagar propina a legisladores para operar a favor dos seus interesses, não poderão entrar em território estadunidense.
Peña promete estabilidade, investimento estrangeiro e combate à delinquência. E não poupa elogios ao ditador, pois segundo ele, os anos de ditadura permitiram desenhar políticas de longo prazo, “sem a insegurança que provoca a política eleitoral”.
Essa é a terceira vez que Efraín Alegre, ex-ministro do governo Lugo, disputa a presidência. Lidera a Concertação para um Novo Paraguai, que integra vários partidos e organizações de esquerda, centro-esquerda, centro e centro-direita, que buscam pôr fim ao monopólio colorado. Ele se coloca como opção de mudança e põe o foco no combate à corrupção e nos programas sociais, com ênfase no setor público. Lugo encabeça a lista da Frente Guasú, buscando sua reeleição ao Senado, e apoia a candidatura de Alegre e Soledad Núñez, candidata à vice-presidência.
A eleição é de turno único, quem obtiver maior percentual de votos, vence. Chegam ao domingo sem nenhum debate. Foram cancelados, após Peña colocar como condição convidar mais candidatos, tentando evitar o embate com Alegre. Se você pensou em alguém no Brasil, é isso mesmo.
Os ventinhos brasileiros não param por aí. Um candidato já falou em matar 100 mil brasileiros invasores bandidos. Paraguayo Cubas, ex-deputado e senador, se vende como outsider mas já ocupou diversos cargos políticos, e é conhecido pelo seu talante violento e discurso agressivo.
Payo, como é conhecido, se define como “ideologicamente eclético”, nacionalista, “romanticamente anarquista e operativamente republicano”, defensor de um Estado pequeno. Já criticou o latifúndio, e prometeu governar com as Forças Armadas. É enigmático.
Cresceu 8 pontos percentuais desde a última pesquisa, chegando terceiro lugar, com 23%. Apesar da política paraguaia ser uma arena com escassas surpresas, não dá para deixar de considerar o crescimento do terceiro candidato.
Cubas tem esvaziado a candidatura do famosíssimo ex-goleiro da seleção paraguaia, José Luis Chilavert, também da direita radical, que aparece na pesquisa com míseros 1,2% e tem capitalizado votos entre os descontentes com a gestão colorada e os que não vem a Alegre como opção.
A eleição de domingo representa uma chance histórica de mudança para o Paraguai, que pode quebrar o monopólio colorado e abrir novos horizontes para o castigado e grandioso povo paraguaio. Mas, infelizmente, no Paraguai, sempre ganham os colorados, e isso pode acontecer novamente.
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