A maior parada LGBT do mundo, em sua 21ª edição, traz como tema a importância do Estado laico e alerta para retrocessos no respeito à diversidade
Com o tema “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é Lei! Todas e todos por um Estado Laico”, a Parada convida a todos para pensar, entre outras questões, na ascensão do fundamentalismo religioso no Brasil.
“Grupos de pessoas dentro de algumas religiões insistem em nos condenar e retirar direitos já adquiridos. No Congresso Nacional, por exemplo, o debate sobre a criminalização da LGBTFobia é repleto de ataques de parlamentares da bancada religiosa e conservadora, muito dos quais utilizando-se de suas imunidades parlamentares para disseminar o ódio a uma parcela da população”, afirma a presidenta da Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo (APOGLBT), Claudia Regina.
A natureza laica do Estado, prevista na Constituição Federal, deveria impedir que, sob pretextos religiosos, parlamentares promovessem ataques a segmentos sociais distintos dos deles. “A laicidade do Estado democrático garante respeito à diversidade religiosa, humana e cultural. O Estado deve assegurar todos os direitos humanos, tais como a liberdade religiosa, o direito de cada cidadão exercer ou não a religiosidade que quiser, mas deve ser garantida a não discriminação. Além disso, é necessária a autonomia do Estado frente às igrejas, garantindo sua imparcialidade”, continua Claudia.
A secretária de políticas sociais da CUT São Paulo, Kelly Domingos, concorda com os perigos do avanço conservador e fundamentalista no país, em especial na política. “Vivemos num clima de instabilidade política, de golpe, onde o fascismo também mostra sua cara. Um cenário em que a bancada fundamentalista coloca as garras de fora. E é aí que a discriminação e o preconceito ficam em evidência, assim como a violência, principalmente contra populações como a LGBT”, afirma. A Parada deste ano será embalada por 19 trios elétricos. A CUT participa do evento no 11º trio.
Como exemplo da interferência do fundamentalismo religioso na política, Claudia lembra de projetos que tramitaram recentemente no Legislativo. “Os exemplos são inúmeros – e desumanos. É proposta legislativa federal o Estatuto da Família, que, com base unicamente em argumentos religiosos, não reconhece como legítimos e legais diversos arranjos familiares, inclusive com responsáveis legais LGBT”, afirma.
“Vimos nos anos de 2015 e 2016 retrocessos na promoção da igualdade de gênero nos planos de educação articulados por bancadas legislativas católicas e evangélicas, e referendadas por chefes do Poder Executivo. E ainda há trabalho para que o ensino religioso no sistema público de educação seja confessional, ao invés de propor visão secular da história das religiões. Seria o Estado a serviço do fundamentalismo religioso”, completa a ativista.
Por fim, Claudia reafirma a importância do evento, que é a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo. “Convocamos nesse momento e para fortalecer nosso movimento e luta, as mulheres, as pessoas negras, as minorias religiosas, minorias étnicas, ateus e agnósticos, para estar na Parada LGBT, trazendo seu protesto, sua manifestação em favor do Estado laico e em defesa da igualdade.”
Fonte: Rede Brasil Atual.