Convite muito especial para quem gosta de refletir sobre o mundo do trabalho, e sorrir também.
*Incluímos resenha do escritor e professor Giuliano Quase.
“Todo Maldito Santo dia”, um livro de Paulino Júnior – obra premida pelo Edital Público Elisabete Anderle.
Trata-se de um livro de contos no qual o autor aborda o mundo do trabalho e as contradições da sociedade capitalista, numa “ficção ácida e com muita ironia”, conforme ressaltou o crítico literário Haron Gamal.
Será dia 15 de julho, as 19 horas, no Espaço Eglê Malheiros & Salim Miguel, na rua Visconde de Ouro Preto, n.457 , centro. Florianópolis( ao lado do Corpo de Bombeiros)
Preço de lançamento: R$: 10,00.
Resenha de Todo maldito santo dia
Por Giuliano Quase.
Sempre que inicio a tessitura de uma resenha – faz tempo que não mexo neste gênero – me preocupo em não desapontar a leitura dos livros de ficção dos escritores contemporâneos. Comentar, por mínimo que seja, é difícil.
Paulino Júnior, por exemplo, mostra-se um grande escritor em sua obra de estreia Todo maldito santo dia, lançada com o apoio do edital Elisabete Anderle da Fundação Catarinense de Cultura (FCC). O conjunto dos contos prova o olhar atento e questionador para os problemas do mundo do trabalho no mundo capitalista.
A realidade apresenta pontas para ligar a ficção: os contos fogem a qualquer realismo mágico. O realismo de Paulino é calcado na dialética do concreto. A vida, para repetir um poeta, está retratada sem mistificação. Na selva urbana, por exemplo, assassinos com fórum privilegiado são absolvidos de seus crimes. Personagens que necessitam de remédio para trabalhar. Zumbis narradores: dopados, anestesiados. Pedófilos. A alienação é um problema no universo narrativo do contista que me leva a deduzir, numa primeira instância, que o narrador está “cotado” à prisão dos aplausos.
As linhas tortas do escritor apresentam um mundo cão. Sem plumas. Explico: as investigações discursivas contestam o mundo administrado e vigiado. Tem voz ativa. Plurissignifica todas as nossas indignações.
O mundo do trabalho, “dos horários embrutecidos / pelos carrascos ponteiros do relógio” – pra não esquecer A ditadura do relógio de George Woodcock via Garotos Podres – percorre in infinitum a servidão moderna. Os universos perturbados por uma normalidade não tão normal têm seus terrores nas entrelinhas. A moderna escravização cheira hambúrguer. Perder seu dedo num trampo de fast-food, ser uma mercadoria na sociedade do espetáculo, engolir coisas contra a sua vontade são regras sem exceções. Tudo parece estar à venda. E nada fica na efemeridade terrível da modernidade. Resta-nos o vazio ensacado em forma de amargura, tristeza, solidão nesta constelação plástica das videoaulas, da competitividade, das trapaças, enfim, disso que podemos nomear de um mundo administrado por uma “consciência de vitrine”. Maldito mundo disciplinado.
Assim são os vinte contos de Paulino Júnior.
Grosso modo, no bojo de uma apresentação, nota-se a ausência do que poderíamos chamar de “realidade orgânica”, ausência esta que faz perder a personalidade. E é por esse viés que caminham os personagens dos contos. Um deles, o capitalismo o transformou em coisa.
A “consciência de vitrine”, para retomarmos o conceito, condiciona o sujeito a ser mais um empregado, onde, alegoricamente, a empresa pode ser a cidade, o estado, o país. A placa de “funcionário do mês” é mero deboche.
Paulo Leminski intitulou um de seus livros de Distraídos venceremos. Em um mundo distópico e, paradoxalmente, muito real como o dos contos de Paulino Júnior, podemos apreender que distraídos não venceremos, seremos esmagados. Torturados. Vilipendiados pelo tempo perdido onde os personagens escravizados atuam no palco de suas ficções sociais: “o grotesco mais sutil da farsa”.
Giuliano Quase é escritor, fanzineiro, professor da rede pública em Curitiba e leitor de ficção.
Sobre o autor:
* PAULINO JÚNIOR (Presidente Prudente/SP, 1979) é ficcionista. Graduou-se em Letras e concluiu mestrado em Teoria Literária pela UNESP. Seus contos foram publicados em diversos periódicos – com destaque para a revista Coyote nº 24 (inverno de 2012) e Ô Catarina (nº 81, 2014) – e em antologias de concursos literários – os mais recentes foram Histórias de Trabalho 2013 (Coordenação do Livro e Literatura de Porto Alegre) e 8º Concurso de Conto e Poesia (Sinergia/SC). Ademais, teve um conto escolhido como epígrafe para a coletânea de artigos científicos Jovens, trabalho e educação: A conexão subalterna de formação para o capital (Ed. Mercado de Letras, 2012). Contemplado pelo edital Elisabete Anderle 2013, da Fundação Catarinense de Cultura, acaba de publicar seu livro de contosTodo maldito santo dia (Ed. Nave, 2014). Vive em Florianópolis desde 2005.