Para meu companheiro da Ilha, Raul Fitipaldi

Lu1

Por Luciane Recieri Dallabrida.

Esses últimos meses não te disse nada. Palavra alguma caberia. Guardei-me em silêncio resignado, porque eu sabia lidar muito com silêncio, não com a dor do outro. Nesses últimos meses só te olhei de longe, desta lonjura que se chama continente e que se chama ilha. Eu te olhei e esperava palavra tua, mas não veio. Foi tarefa tua sofrer desse jeito e me lembro da primeira vez que conversamos: o sotaque e o jeito de gente amiga, sabia sem te ver. A primeira vez que nos vimos, o abraço foi sincero como o de velhos companheiros acostumados à lida diária e, da última vez que te vi, foi atrás de uma xícara de café que chorou um pouco e depois me sorriu docemente e me abraçou para a viagem de volta, porque foi tarefa tua sofrer, mas foi vocação tua não endurecer.
Eu mesma não soube lidar com a morte e por quinze dias naufraguei em água escura e depois de nove meses, nasci nessa vida que estou agora, mas levei oito anos para aprender a caminhar. Só sei lidar com o silêncio, companheiro. Calo-me, pois e te abraço por longos minutos e se quiser, fico pela casa aguardando a tua fala.
As coisas muito bonitas me metem medo, menos o mar.
Abraço-te desde o continente. Sem mais.

Luciane.

Foto: Tali Feld Gleiser.

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