Por André Mantelli.
Como bem lembra o camarada Arthur Dantas, FASCISMO NÃO SE DISCUTE, SE COMBATE. Liçãozinha que aprendi desde pequeno na escola: lembro lá atrás no tempo, quando ainda era moleque na 6ª série (tinha 11 anos?) que a turma havia se dividido em “duas facções”, uma disposta a tocar o terror através da força e a outra, da qual eu fazia parte como bom cedeéfe, que fazia a contenção e tentava a mediação com a supervisão do colégio. Um dia, quando um garoto saiu bem machucado depois que os amiguinhos justiceiros quase cortaram sua garganta por tentativa de enforcamento com um cordão de nylon, a supervisora durona interrompeu a aula pra passar um sermão nos pequenos delinquentes, discorreu sobre como nascem organizações mafiosas e fascistas, seus significados e consequências.
Quando estávamos nos sentindo triunfantes com aquele esculacho didático sobre a “turma do mal”, eis que ela olhou firme pro meu grupo e bradou como um chicote de relâmpago: E VOCÊS, SEUS COVARDES? VÃO FICAR ASSISTINDO OU TOMAR PROVIDÊNCIAS DE VERDADE? E depois de um trovão de gargalhadas, ironizou que nada valia exercitar o cérebro se não fosse para responder concretamente às demandas da vida, que a arrogância de pensar que tem uma inteligência privilegiada só contribui para nos isolar da realidade e nos tornar inertes diante de um mundo vulnerável.
MORAL DA HISTÓRIA: o que fez a diferença dali em diante, principalmente para os facínoras mirins que cagaram e andaram pro discurso da pedagoga, foi que a galera começou a reagir (e assim surgiram os primeiros punks e anarquistas da escola). Os caras eram maiores, mais fortes e “mais malvados”, e além de tudo não tinham medo de nada. O primeiro passo, portanto, era perder o medo. Vai doer? Vai. Mas sem admitir a dor a gente não evolui, não. Tem dor na carne, tem dor no espírito, tem dor no amor. O medo existe, então basta buscar e criar um monte de referências que ajudem a nos livrar dele: a arte, por exemplo, tá aí pra isso mesmo. Quando os caras sentiam que não iam ganhar mais nada no grito e ainda levavam umas pancadas, a saída era pensar duzentas vezes antes de crescerem pra cima de todo mundo. Esse tempo que “ganhavam” pra pensar surtia algum efeito, podem acreditar.
Fonte: Mídia Coletiva