Por Vanessa Martina Silva. O presidente do Equador, Rafael Correa, declarou a Opera Mundi que seu país não entrará na Aliança do Pacífico – bloco de livre comércio formado por Colômbia, Peru, Chile e México –. “Não o faremos porque não é nossa orientação política. Ingressar nessa zona de livre comércio é pouco menos que suicídio”, declarou. O mandatário participou, na noite da última terça-feira (15/07), de uma palestra na Universidade de Direito do Largo São Francisco da USP sobre a “revolução” econômica e educacional que vive seu país.
Durante sua estada no Brasil, Correa assinou um acordo de cooperação entre a cidade de São José dos Campos – o maior polo aeroespacial da América Latina – e Yachay, a primeira cidade planejada do Equador, criada para ser um centro propulsor da inovação tecnológica. O mandatário também se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o qual debateu questões relacionadas ao avanço da integração latino-americana.
Em sua exposição de duas horas para uma plateia lotada de estudantes, o presidente criticou veementemente o sistema econômico atual e defendeu a necessidade de se criar uma “nova ordem econômica mundial”.
Na América Latina, “a pobreza é fruto da iniquidade, da relação de poder onde poucos dominam quase tudo”, disse. E acrescentou: “lutar contra a pobreza é o melhor que podemos fazer pelos direitos humanos”.
Economista, Correa considerou que os problemas pelos quais o mundo está passando não são técnicos, de falta de recursos, “mas políticos”, por isso, “a resolução da crise passa pela retomada do controle da sociedade sobre o mercado” e pela “supremacia das pessoas sobre a especulação”.
Nova arquitetura regional
No âmbito regional, isso se daria através da criação de uma nova arquitetura financeira regional, dividida em três componentes. O primeiro deles seria a adoção de um Sistema de Troca Compensada, que funcionaria da seguinte forma: “se o Brasil vende uma cadeira para a Argentina, em dólares, os Estados Unidos ganham só por emitir a nota. É uma transferência de renda só por utilizar uma moeda extrarregional”, esclareceu, defendendo na sequência a criação de uma “moeda” regional para “fazer trocas com nossa própria moeda e não transferir riqueza para um país extrarregional”, a exemplo do que já ocorre no comércio entre Brasil e Argentina; Venezuela e Equador.
O segundo passo seria a criação do “Fundo Monetário do Sul”. Com o acúmulos de reservas regionais, os países teriam “mais segurança para o caso de uma crise”, pontuou o equatoriano.
Por fim, o terceiro passo seria a consolidação do Banco do Sul, criado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez em 2009, que seria utilizado para “financiar projetos intrarregionais de desenvolvimento e infraestrutura”.
Integração latino-americana
No marco da celebração da criação do Banco dos Brics anunciado ontem, Correa avaliou que “houve uma desaceleração no processo integracionista, sobretudo na Unasul”. Entre as causas levantadas por ele para esse fato estão as mortes do ex-presidente argentino Néstor Kirchner, que era o Secretário-Geral do organismo, e de Hugo Chávez, o grande impulsionador da integração. Além disso, o atual secretário está gravemente doente, conta.
Com a criação da Aliança do Pacífico, muito se especulou a respeito do futuro da integração latino-americana devido à contraposição ideológica que o bloco de livre comércio faz com os outros mecanismos criados ou reformulados como Mercosul (Mercado Comum do Sul), Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos). O possível ingresso do Equador no bloco chegou a ser especulado, mas tem sido reiteradamente rechaçado por Correa para quem um acordo como este teria uma dimensão fatal para seu país.
Os problemas internos vivenciados por cada país, como a crise de desabastecimento na Venezuela, a luta da Argentina contra os fundos abutres e as problemáticas internas que vive o Brasil, também impactaram no fortalecimento regional. Para Correa, “alguns países se detiveram muito em problemas internos, então isso [a integração] ficou pendente para nós”.
Como um dos benefícios que a integração pode trazer para a região, o líder equatoriano considerou que por meio da união “seremos nós quem colocaremos nossas condições sobre o capital financeiro e especulativo. Imporemos a supremacia do ser humano sobre o capital. O interesse de nossas nações sobre o dos países hegemônicos”. Esta é, de acordo com o líder regional, “a única maneira de conquistarmos nossa segunda independência”. E conclui: a integração “não é um sonho, mas uma necessidade de sobrevivência”.
Assista à íntegra da conferência sobre a as transformações econômicas e culturais no Equador AQUI
Foto: Reprodução/Opera Mundi
Fonte: Opera Mundi