Pandemias acirram desigualdade de renda

Índice de Gini cresceu após surtos, e empregos básicos perderam mais.

Foto: Andre Coelho

Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa que a renda mundial iria crescer 3%; as atuais previsões da instituição são de uma queda de 3%, muito pior do que durante a Grande Recessão de 2008–09. A julgar por pandemias anteriores, o golpe será muito pior para os segmentos mais pobres e vulneráveis da sociedade.

Uma sondagem recente entre economistas revelou que a grande maioria acredita que a pandemia de Covid-19 irá exacerbar a desigualdade, em parte devido a seu impacto desproporcional sobre os trabalhadores pouco qualificados, destaca texto dos integrantes do FMI Davide Furceri, Prakash Loungani e Jonathan D. Ostry.

“Constatamos que as grandes epidemias deste século elevaram a desigualdade de renda e prejudicaram as perspectivas de emprego daqueles com educação básica, porém praticamente não afetaram aqueles com curso superior”, informam os membros do Fundo.

Eles analisaram cinco grandes eventos sanitários recentes – Sars (2003), H1N1 (2009), Mers (2012), Ebola (2014) e Zika (2016) – e acompanharam seus efeitos distributivos nos cinco anos posteriores a cada evento. Em média, o coeficiente de Gini – um indicador de desigualdade de uso corrente – aumentou a um ritmo constante na sequência desses eventos.

Após cinco anos, o coeficiente de Gini líquido aumenta quase 1,5%, “o que representa um impacto elevado, uma vez que a evolução desse indicador ao longo do tempo é lenta”, lembra o texto. Esses efeitos das pandemias decorrem da perda de emprego e outros choques na renda (como a diminuição das remessas do exterior) e da deterioração das perspectivas de emprego.

Em relação à escolaridade, a disparidade é nítida: o emprego daqueles com alto nível de escolaridade quase não é afetado, enquanto o emprego daqueles com escolaridade básica cai mais de 5% ao final de cinco anos.

“Em termos concretos, o que pode ser feito? Ter acesso a benefícios como licença médica, seguro-desemprego e assistência de saúde é bom para todos ao lidar com os efeitos da pandemia, mas é fundamental para os segmentos mais pobres da sociedade”, recomendam os pesquisadores.

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