Por Gabriel Valery.
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos principais festivais de cinema do Brasil, chega à sua 44ª edição em outubro. Em razão da pandemia provocada pelo novo coronavírus, este ano o evento será majoritariamente on-line, além de exibições especiais em cinemas drive-in. Uma homenagem especial para os trabalhadores da Cinemateca Brasileira também será concedida pela Mostra.
Todo ano o evento concede o Prêmio Humanidade. Grandes nomes já foram contemplados, como os diretores Abbas Kiarostami, Amos Gitai e Eduardo Coutinho. Na edição deste ano, será a vez do conjunto dos trabalhadores da Cinemateca.
“Nesta edição o prêmio será dedicado aos funcionários da Cinemateca, que desde o ano passado estão sem receber salários e sofrem com o risco que o acervo da instituição corre pelo descaso do governo”, informa a direção da Mostra. O anúncio foi confirmado pela diretora Renata de Almeida.
Os trabalhadores da Cinemateca emitiram nota conjunta para agradecer à organização da Mostra. “Agradecemos à organização da Mostra de SP pelo prêmio. Reiteramos que a luta pela instituição continua e necessitamos de total apoio para que promessas sejam cumpridas e que os canais de diálogo mantenham-se abertos. Permaneceremos ao lado de toda mobilização e de entidades, nacionais e internacionais, que se colocam em prol desta cinemateca que já foi e que necessita voltar a ser uma das melhores do mundo.”
A questão Cinemateca
A Cinemateca Brasileira tem sede em São Paulo, no bairro da Vila Mariana. Ali estão preservados cerca de 250 mil rolos de filmes que remontam a mais de 100 anos de história audiovisual brasileira. Trata-se do maior acervo da América Latina do gênero.
No fim do ano passado, a instituição foi abandonada pelo governo Bolsonaro. De lá para cá, os mais de 60 funcionários, muitos técnicos com anos de formação e trabalho especializados, ficaram meses sem salário. O descaso provocou até mesmo a dissolução da brigada de incêndio local, colocando o acervo em grande risco.
Porém, mesmo sem salários e em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos, os trabalhadores não descuidam do acervo. Usando dinheiro do próprio bolso, resistem o quanto podem. Mantiveram seus trabalhos essenciais para a manutenção deste acervo, e iniciaram mobilização em defesa da instituição.
Os resultados ainda são incertos. No início do mês, o governo chamou a Polícia Federal para intervir na Cinemateca e tomar as chaves da controladora até então, a Fundação Roquette Pinto (Acerp). Após isso, a entidade anunciou a demissão de todos os funcionários.
O governo e o secretário especial de Cultura, Mario Frias, foram alvos de intensas críticas pelo abandono e descaso, além de representação do Ministério Público. Pouco adiantou. A secretaria informou que deve realizar um novo edital para um novo contrato em até três meses. Enquanto isso, os funcionários e a comunidade do audiovisual temem pela segurança do acervo.
A Mostra
As informações sobre a presente edição da Mostra ainda são preliminares. Sabe-se que será utilizada uma plataforma de streaming exclusiva, produzida pela mesma empresa contratada pelos recentes festivais de Cannes e Tribeca. Os cinéfilos pagarão R$ 6 por filme.
Também estão previstas sessões gratuitas por meio de plataformas do CineSesc e da SPcine, além de exibições especiais no cine drive-in da Petra Belas Artes.
Serão cerca de 150 filmes de diferentes países. A identidade visual (arte gráfica) do festival será assinada pelo ícone do cinema chinês Jia Zhangke, que terá exibido seu mais novo longa-metragem, Nadando até o Mar Ficar Azul (2020).