Por Fábio Aleixo.
Os atletas da Palestina que participarão da Olimpíada do Rio de Janeiro a partir de sexta-feira vivem uma situação delicada a seis dias da cerimônia de abertura. Estão sem roupas de treinamento e competição e não sabem como farão para resolver o problema.
Isso ocorre pois todo o equipamento esportivo enviado pela fabricante chinesa Peak está preso na alfândega de Israel, segundo informou ao UOL Esporte a chefe de delegação Ghayda Abuzazayyad.
Os atletas e treinadores que já chegaram ao Brasil contam apenas com uma camiseta e uma blusa oficiais, e estão tendo de lavá-las periodicamente para não ficarem sem uma identificação do país enquanto caminham pela Vila Olímpica.
“Mandamos uma carta para o COI (Comitê Olímpico Internacional) falando sobre a situação para ver como eles podem nos ajudar. Pedimos ao Comitê Organziador se a Peak poderia fazer o envio direto ao Brasil mas nos disseram que isso iria levar muito tempo. Estamos vendo de comprar algumas roupas e colocar a bandeira da Palestina. Não temos nem roupa para a cerimônia de abertura. Acho que teremos ir com estes agasalhos mesmo”, falou Ghayda.
A situação incomoda bastante ao nadador Ahmed Gebrel, que competirá nos 200 m livre e já está no Rio de Janeiro.
“Eu, como nadador, deveria apenas pensar e me concentrar nos treinos. Mas estou tendo que me preocupar em achar algum lugar para comprar equipamento, pois não tenho nada. É uma situação complicada”, afirmou.
Apesar deste problema, os palestinos não perdem a alegria. Estar na Olimpíada já é um grande feito para os seis atletas que compõem a delegação. Principalmente por causa da situação econômica e política do país que não é membro da ONU (Organização das Nações Unidas) e sofre com as restrições e embargos impostos por Israel.
Para poderem viajar, por exemplo, precisam sair de qualquer cidade palestina e se dirigirem à Jordânia para tomar um avião, pois não há aeroporto em território palestino e o acesso a Israel é proibido.
“Muitas vezes quando atletas ou treinadores chegam na fronteira são barrados e mandados de volta sem nenhum motivo. É muito complicado”, relatou a chefe de delegação.
E não são apenas as questões geopolíticas que pesam contra os palestinos. A estrutura esportiva é precária, ou praticamente nula para alguns esportes.
“O pessoal do atletismo não conta com uma pista oficial. Precisam treinar e competir no asfalto. Também não temos piscina olímpica, apenas uma grande em um clube, mas sem as medidas oficiais. Então, é de fato muito complicado”, disse Ghayda.
Para que os atletas possam se desenvolver, o Comitê Olímpico Palestino conta com a ajuda do programa de solidariedade olímpica do COI. Com isso, consegue bolsas para fazer com que os atletas viajem a outros países. É o caso do nadador Ahmed Gebrel, que vive na Espanha, e do judoca Simon Yacoub que está radicado na Alemanha.
“Mas temos também uma nadadora (Miri Alatras) que vive e treina em Belém e só pôde passar algumas semanas treinando na Argélia para esta Olimpíada, o que é muito pouco. E temos também um competidor do atletismo (Mohammed Abukhousa), que mora em Gaza”, disse a chefe de missão.
“Apesar de todos os problemas, estamos orgulhos e muito felizes de estarmos aqui no Rio. O objetivo é que os atletas melhorem seu resultados e quebrem os recorde nacionais”, completou.
A participação no Rio de Janeiro será a sexta da Palestina em Olimpíadas, sendo que a primeira aconteceu em 1996, em Atenas (EUA). O país jamais conquistou uma medalha.
No Rio, serão dois representantes no atletismo, um no hipismo adestramento, um no judô e dois na natação.