Palestina, a causa que unifica todos os oprimidos do planeta. Por Francisco Fernandes Ladeira.

Foto: Andy Soloman/UCG/Universal Images Group via Getty Images

Por Francisco Fernandes Ladeira.

A frase que intitula este texto é óbvia, mas, infelizmente, ainda há muitas forças progressistas que se recusam a aceitá-la. Talvez influenciadas pela propaganda midiática ocidental, consideram, erroneamente, os palestinos como “atrasados”, “terroristas”, “conservadores”, “patriarcais”, “reacionários” ou “fanáticos religiosos”, entre outros termos com forte carga semântica negativa. Nessa linha de raciocínio, as pautas de esquerda e a luta palestina não poderiam estar associadas.

Ledo engano, pois a realidade nos mostra que a heroica resistência do povo palestino está relacionada a todos os tipos de luta contra a opressão. Portanto, é a causa que unifica todos os oprimidos do planeta.

Como bem sabemos, as duas principais pautas da esquerda são a luta de classes, em âmbito nacional, e a luta dos povos oprimidos contra o imperialismo, em âmbito planetário. Nesse sentido, é importante lembrar que os palestinos vivem sob ocupação colonial de um Estado (Israel), que, no Oriente Médio, é o principal pináculo do imperialismo (representado pelos Estados Unidos e seus aliados europeus). Assim, não há como ser “anticolonial” e “anti-imperialista” sem apoiar a causa palestina. É uma questão de coerência.

A causa palestina também é uma luta antirracista. O Estado de Israel, que se vende como “a única democracia no Oriente Médio”, é baseado na ideia supremacista de que o judeu/branco/descendente de europeus é superior ao árabe/palestino de pele escura (considerado, por lei, cidadão de “segunda classe”, logo constituindo um caso concreto de “racismo estrutural”).

Além disso, Tel Aviv exporta armamentos e procedimentos militares utilizados para alvejar minorias sociais mundo afora. A técnica de estrangulamento que provocou a morte de George Floyd, ocorrida nos Estados Unidos em 2020, por exemplo, é originária da polícia israelense. Desse modo, qualquer movimento antirracista deve ser, inerentemente, antissionista.

Outra causa associada à resistência palestina é a feminista. Não se trata daquele discurso burguês ocidental preconceituoso, que é contrário ao uso do véu islâmico, diga-se de passagem, um direito que as mulheres muçulmanas têm em valorizar sua cultura.

As causas femininas convergem para a Palestina, pois, atualmente, em nenhuma outra região do planeta morrem proporcionalmente mais mulheres do que na Faixa de Gaza. Isso não é por acaso. É uma estratégia de Israel para minar a capacidade reprodutiva do povo palestino.

Do mesmo modo, Gaza é palco de um infanticídio televisionado, visando comprometer as novas gerações palestinas, ou, na “lógica sionista”, “evitar o surgimento de novos terroristas”. Segundo dados da ONU, desde que começou a atual etapa do genocídio, ao menos uma criança é morta a cada dez minutos em Gaza. Diante dessa realidade, ativistas dos direitos das crianças devem ter um olhar privilegiado para a Palestina.

Aliás, com esse histórico perverso, não é difícil constatar que o sionismo, ideologia que está por trás da criação do Estado de Israel e do projeto de limpeza étnica do povo palestino, está na mesma prateleira dos regimes mais abomináveis da história, como o fascismo e o nazismo. Consequentemente, ser antifascista é ser antissionista.

Em suma, na busca por uma realidade socialmente mais justa, para os diversos tipos de ativismos, não há como ser “humano” sem apoiar a causa palestina; sem lutar por uma Palestina realmente livre, do rio ao mar.

Assista à entrevista com Francisco Fernandes Ladeira em Do Rio ao Mar, no vídeo abaixo:

Francisco Fernandes Ladeira é Licenciado em Geografia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual e Campinas (Unicamp).

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