Por Claudia Weinman, para Desacato. Info.
Ainda é possível cantar nas praças. Ouvir a venustidade das canções tão belas, celebrar a passagem do vento e das palavras que por ele, ecoam, entoadas pelos cantadores, artistas populares e outros tantos que apresentam-se na passagem do verão. Em São Miguel do Oeste/SC, um bonito projeto dá vida a esses dizeres. O “Palco Aberto”, criado em maio de 2015, traz esperança nas canções interpretadas por artistas locais, que mostram parte de seu trabalho nos fins de tarde de todo domingo, na praça Walnir Bottaro Daniel e também na Belarmino Annoni.
Gaspo Harmônica, é um desses cantadores, que no domingo, dia 28 de fevereiro, apresentou-se na praça Walnir Bottaro Daniel. Para ele, no meio das gentes é que a cultura desponta, ganha vida. “Toda cidade precisa de um lugar onde as pessoas possam se reunir e cantar sobre a vida. É bom pra quem canta, é bom pra quem escuta. Cultura é isso, tem que estar nas ruas, tem que estar no meio do povo”, reflete.
O Presidente da Fundação Cultural, Elias Araújo do Rosário, também explica que o Palco Aberto é uma opção de lazer, reúne músicos populares, incentiva a cultura local e também convida artistas de outros municípios a participarem deste projeto cultural diferente. “É uma forma de oferecer oportunidade aos músicos de nossa cidade, tornar seu trabalho conhecido e valorizado, além de ter um outro objetivo, que é de proporcionar uma opção de lazer para as pessoas”.
A necessidade que levou a criação do projeto, segundo Araújo, tem relação com um novo olhar para a cultura. Ao observar São Miguel do Oeste e as opções de lazer, especialmente para o público jovem, constatou-se que um grande número de adolescentes aglomeravam-se nos postos de gasolina e nas margens das rodovias. “As praças também podem e devem ser ocupadas para o lazer. É segura, promove e favorece a cultura. Assim, tanto o público jovem quanto as demais pessoas, têm a oportunidade de viver algo diferente em um espaço que acolhe”, disse.
Muitos dos artistas que apresentam-se no final de semana são convidados pela equipe da Fundação Cultural. Segundo Araújo, artistas de outros municípios devem ligar e manifestar interesse em participar do projeto. Exposições de poesias e leituras também se encaixam nessa ideia, que tem sido muito bem aceita pela população. “Tornou-se um gosto popular”, complementa Araújo.
Entre o chimarrão e a pipoca, as rodas de prosa e a boa música, sentar e ouvir as milongas no fim de tarde tornou-se sinônimo de alegria. E por isso, o projeto segundo Araújo deve continuar, independente de governos, a ordem é de liberdade. Não mais praças de silêncios, onde a democracia andava perdida entre os fuzis, tão sombria quanto o ar tirânico, atemorizada com a impertinência dos caminhantes que seguiam vigiando e observando tudo, cada passo, cada gesto de contestação. Nessas praças, de alegria, ainda residem sonhos, músicas, danças, poemas sobre a vitalidade das crianças e as experiências dos mais vividos. Que assim, perdure.
Fotos: Claudia Weinman e Elias Araújo.