Fico sempre a me perguntar: por que os pobres? Por que sempre eles?
Todas as vezes que há um distúrbio, chuva em excesso, ventanias, deslizamentos, eles, os empobrecidos e vulnerabilizados, são os mais atingidos.
As enchentes escolhem inundar suas casas simples, por vezes não passam de barracos, mas a invasão se dá no seu lugar, no pequenino espaço de ser e viver.
Os ventos fortes parecem escolher, há predileção de soprarem sobre seus telhados, em geral de telhas, ou de lona, ou alguma cobertura improvisada, mas é o que se consegue ter.
E, das poucas coisas que restavam para o amanhã – suas roupas, cobertores, colchões, o fogão, a geladeira, o botijão de gás, o alimento da dispensa, até seus animais de estimação – são levados pelas correntezas.
Nada sobra, tudo se perde nas águas ou na lama que permanece ali, como um marcador da dor, sofrimento, angústia, incertezas e, nessa hora, o futuro se apaga.
O que fazer depois das tantas tempestades? Apenas tentava-se recomeçar, reerguer o sonho e a morada? Tirar forças de onde Pai, se não tem para onde olhar a não ser o rosto ao lado, que também foi soterrado pelo abandono.
Enquanto outros Pai, por vezes responsáveis pelo aquecimento global, pela degradação ambiental, pelo assoreamento dos rios, pela contaminação das águas, encontram-se dentro de seus lares felizes, nada perdem, ao contrário, a penúria dos pobres os fortalecem.
E me pergunto outra vez: por que sempre eles? Qual a razão de tanto sofrimento?
Talvez para lutarmos mais, lutarmos por justiça, direitos para todas e todos, segurança, distribuição igual das terras, terrenos e posses.
Também para reconhecermos aquelas e aqueles que fazem a diferença na hora do sofrimento, quando mais se precisa de alguém.
Reconhecermos as pessoas simples a sensibilizarem-se, porque têm sentimentos de solidariedade, fraternidade e compaixão.
Os anônimos e humildes que percebem a dor dos outros e sabem o significado de perder o pouco que se tem.
Os pobres que partilham as migalhas de pão e os que se voluntariam ao apoio sem segundas intenções.
Pai, o ciclone extratropical – que assolou o Sul do Brasil – desvela, nas sociedades, aquelas e aqueles que se importam, ou privilegiam o seu próprio conforto, ou obtém dividendos diante das catástrofes.
Porto Alegre, RS, 18 de junho de 2023.
Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.
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