Por Marcelo Luiz Zapelini, para Desacato. info.
Cerca de 100 manifestantes exigiram, hoje, 19, que o Governo de Santa Catarina pague a dívida acumulada com o Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas). O valor chegou em R$ 40 milhões e ameaça serviços essenciais como terceiro turno de radioterapia e o ambulatório de intercorrências oncológicas.
“São duas tragédias. A omissão criminosa do governador está matando catarinenses”, denunciou João Vianei, paciente do Cepon desde 2010 e líder da manifestação que iniciou em frente ao hospital e seguiu até o Centro Administrativo de SC.
Sem o turno extra, há risco de retorno da fila de espera para o tratamento, que havia sido zerada. Com o fechamento do ambulatório, os pacientes não internados que sofrem com as consequências do tratamento precisam recorrer a unidades de saúde não especializadas.
Até mesmo o lanche oferecido aos pacientes vindos do interior precisou ser cancelado. Os alimentos que recebem agora são provenientes de doações de apoiadores do Cepon.
A chefe do Cepon, Maria Tereza Evangelista Schoeller, garantiu que a diretoria está empenhada em manter todos os serviços. “Já existe um certo nível de desabastecimento, mas estamos reivindicando diariamente que esses materiais sejam repostos e que os recursos cheguem”, explicou.
A falta de recursos obriga que a população busque soluções alternativas. Familiares e amigos de Cleia Beduschi, paciente de câncer falecida em outubro passado criaram uma associação. Mara e Claudete Beduschi realizaram um primeiro bazar ainda ano passado com os objetos que a irmã possuía em casa. Elas já arrecadaram mais de 60 mil reais usados para aquisição de lençóis e realização de exames.
“Realizamos bingos, bazares e eventos para poder arrecadar dinheiro para poder usar para a saúde das mulheres e portadores de câncer em geral. O objetivo do último bazar foi conseguir recursos para exames que o próprio SUS não está conseguindo realizar”, explicou Mara.
Documento
Depois de um ato e de um abraço simbólico ao hospital, os manifestantes seguiram em dois ônibus e carros particulares até o Centro Administrativo do Governo de SC. Nenhum membro da equipe do governador Raimundo Colombo (PSD) os recebeu.
“Eu choro sem derramar lágrimas porque é um descaso para com a população. Ele não teve a sapiência e a retidão de pelo menos um assessor seu nos receber”, lamentou Ivar Luis dos Santos, presidente da Aspac (Associação Amigos e Pacientes de Câncer de Santa Catarina), cujo pai faleceu com a doença.
Apenas oito representantes foram autorizados a entrar no prédio para protocolar um documento.
Nele, a comissão de pacientes pede que o governador mantenha “as atividades desenvolvidas de forma tão humana, integral e de extrema qualidade prestadas pelo Cepon aos pacientes oncológicos”.
Relatam que o cancelamento do terceiro turno do serviço de radioterapia vai deixar de atender “40 pacientes/mês, o que irá resultar em fila de espera, o que já ocorria antes”.
O fechamento do período noturno do ambulatório obrigará os pacientes “já sofridos e maltratados pela doença, a procurarem atendimento em emergências das demais unidades hospitalares não especializadas em oncologia”.
O lanche de café e bolachinhas “representa muitas vezes a única refeição diária” aos pacientes vindos de cidades do interior e que “permanecem no Cepon durante todo o dia”.
A “falta de medicamentos resulta na insegurança dos pacientes em relação à continuidade ou não do seu tratamento”.