
Devemos honrar Bayer hoje mais do que nunca. Não por uma simples reparação, uma tênue marca da história que não reparará os danos causados ??ao seu monumento na Rota Nacional 3, no Posto Güer Aike, na cidade de Río Gallegos. Esse gesto não é suficiente. Torna-se declamatório. Os fascistas redobraram a aposta no dia seguinte, 24 de março. Eles continuam com sua batalha cultural que já se tornou uma guerra. Uma guerra relâmpago, sua própria Blitzkrieg libertária.

Eles propõem instalar o que Hugo Calello, doutor em Filosofia e professor da Faculdade de Ciências Sociais da UBA, chama de demofascistocracia. Mais um conceito para discutir o que é essa argamassa biodegradável que rege. Seja uma ditadura civil, uma democracia controlada, um regime neoliberal corrupto ou puro bonapartismo. Se as definições abundam, é porque sua identidade ainda é inclassificável. Talvez tenha um pouco de tudo. Mas não uma definição que o resuma.
O que a história deixará evidente é o que o Vox Dei cantou em Presente, um hino que transcendeu os anos 1970: “Tudo acaba no fim, nada escapa, tudo tem um fim, tudo acaba…” Alguns argumentam que o governo está encurralado por uma economia irrealista, com variáveis ??oficiais que não se sustentam. É por isso que ele dá socos por todo lado, como um boxeador grogue. A questão é: até quando?
Milei e seu grupo de funcionários continuam a eticar a corda. Assim como o presidente do Departamento de Estradas de Rodagem, engenheiro Marcelo Campoy, que foi o responsável direto pela destruição da obra. Não ficaram satisfeitos com o discurso gravado e falso vomitado por Agustín Laje (Agustín Laje Arrigoni é um escritor conservador, comentarista político e conferencista argentino – N.T.), o principal sacerdote dos sermões negacionistas na segunda-feira, dia 24? Esse personagem escatológico fez um discurso cheio de excrementos leves que omitiu o terrorismo de Estado a partir de 1976, e antes disso a Semana Trágica, o golpe de Uriburu e a fraude patriótica, o atentado de 16 de junho de 1955, a proscrição do peronismo e, durante o regime de Videla, os desaparecimentos forçados, as crianças como espólio de guerra e os voos da morte. Mas, além disso, nos julgamentos por crimes contra a humanidade, os perpetradores tinham – e ainda têm – todas as garantias constitucionais que foram negadas às suas vítimas.
O conceito que Osvaldo Soriano (escritor e jornalista argentino, considerado um dos principais narradores do país da segunda metade do século XX – N.T.) usou em uma entrevista com seu homônimo deve ser aplicado literalmente a essa casta parasitária de feras ultramontanas. Bayer comentou assim numa das linhas conceituais de sua vida: “Decidi não ter misericórdia dos implacáveis”.
O autor de “Triste, solitário e final” e “Não haverá mais penas nem olvido” sabia que o velho anarquista tinha uma razão convincente para dizer o que disse: “Minha falta de misericórdia para com os assassinos, para com os carrascos que agem a partir de uma posição de poder, resume-se a descobri-los, a expô-los diante da história e da sociedade e, de alguma forma, a reivindicar os que estão abaixo, os humilhados e ofendidos, aqueles que em todas as épocas saíram às ruas para gritar seus protestos e foram massacrados, tratados como criminosos, torturados, roubados, jogados em alguma vala comum.”
Qual o significado de um ato simbólico tão violento como a derrubada de seu monumento, erguido pelo governo de Alicia Kirchner em Santa Cruz? A escavadeira que a demoliu não foi usada para reparar as estradas danificadas, manter as pontes ou garantir o controle dos caminhões nos postos de pesagem e medição, que deveriam ser supervisionados pela polícia ou pela gendarmaria.
Ela foi usada como a motosserra – o artefato atávico de Milei – para punir um emblema de rebelião. Bayer se antecipou a todos os escritores de sua geração para ganhar o deserto da Patagônia. Desde que escreveu sobre o fusilamento de operário na década de 1920, a história se tornou mais completa. O mesmo que um presidente de extrema direita que nem sabe o nome de San Martín quer reescrever.
Tradução e revisão de texto em português: Portal Desacato
O autor de clássicos da história argentina, sempre corajoso e com os olhos nos oprimidos, disse uma vez: “Decidi não ter misericórdia dos cruéis”. Talvez por essa conduta consistente e verdadeiramente libertária – ela era anarquista – o regime de Milei não encontrou fórmula melhor do que apagar o passado destruindo seu monumento em Santa Cruz.O autor de clássicos da história argentina, sempre corajoso e com os olhos nos oprimidos, disse uma vez: “Decidi não ter misericórdia dos cruéis”. Talvez por essa conduta consistente e verdadeiramente libertária – ela era anarquista – o regime de Milei não encontrou fórmula melhor do que apagar o passado destruindo seu monumento em Santa Cruz.
Descubra mais sobre Desacato
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.