Para começar, apresente-se aos leitores. Fale um pouco sobre você.
Olá a todos, sou o Thiago Lee, escritor de ficção, sergipano, podcaster e trouxa, não necessariamente nessa ordem. Comecei a investir na carreira de escritor em 2014 depois de postar uns contos de terror num fórum especializado e receber vários elogios. A partir daí, publiquei vários outros contos e fui finalista do prêmio Brasil em Prosa da Amazon em 2015. Publiquei Réquiem para a Liberdade em 2016 e daí pra frente foi um caminho sem volta. Sou host do podcast Curta Ficção juntamente com a Jana Bianchi e o Rodrigo Assis Mesquita, e em 2018 publicarei meu segundo romance através de um edital da Prefeitura de São Paulo, um realismo fantástico cujo título provisório é O Homem Vazio.
Você foi indicado ao Oscar Literário pela sua obra Réquiem para a liberdade. Algo que se destaca nela é o fato de o protagonista ser negro (um ex-escravo, ainda mais!). Isso é raro na literatura fantástica. Você pesquisou para escrever esse personagem? Quais foram suas inspirações?
Eu queria muito escrever uma ficção fantástica contada através do ponto de vista de um personagem “não convencional” no gênero (ou seja, nada de garoto de olhos claros que foge de sua casa após se tornar órfão e treina com os melhores guerreiros e magos para livrar o reino das forças do mal). Ao mesmo tempo, eu não queria focar em situações muito “pesadas”, pois senti que eu não tinha bagagem suficiente para discutir a fundo questões raciais ou de classe. Por isso, a escrita é bem leve, de forma que o leitor possa apenas curtir a aventura de Marko e posteriormente refletir sobre as injustiças que acontecem no plano de fundo da história principal.
Eu pesquisei bastante sobre a cultura iorubá e os nagôs para construir alguns personagens, além de usar algum conhecimento que eu já tinha sobre os povos da região do Mar Adriático para criar o cenário ficcional onde a história se passa. Ou seja, uma mistura bem grande de influências e culturas. Mas o principal em Réquiem são os personagens. O Marko, por exemplo, foi levemente inspirado num famoso músico do flamenco espanhol, Camarón de la Isla, que nasceu pobre numa família cigana e através da música conseguiu se transformar num ídolo em seu país, apesar dos ricos na sua época o considerarem “grosseiro” e “transgressor”. A diferença é que transportei essa personalidade para um personagem negro, adaptando sua bagagem cultural.
Aliás, como você se sente com esta indicação ao Oscar Literário?
Eu já vinha acompanhando o Oscar Literário nos anos anteriores e sempre achava o máximo, pois grandes autores nacionais e amigos, como a própria Jana, haviam sidos indicados. Quando vi a notícia que meu primeiro livro também havia entrado na lista ao lado de gente que admiro, deu aquele calorzinho no coração que você sente quando sabe que o fruto de seu trabalho árduo deu algum resultado.
Como é o seu processo de escrita?
Caótico. Como eu moro em São Paulo, trabalho bem longe de casa e acordo muito cedo, tenho que adaptar a escrita à minha realidade cotidiana. Por isso escrevo no ônibus, na hora do almoço, em cafeterias, no notebook, no caderno… basicamente, sempre que surge uma chance; não posso me dar ao luxo de ter bloqueio criativo. Quanto ao texto em si, eu não planejo muito o que vou escrever, mas conforme as ideias vão se consolidando na minha cabeça, eu faço pequenos outlines e pontos de atenção do que vem pela frente, para não empacar. Caso eu esteja num certo ponto da narrativa e perceba que preciso alterar algo que escrevi antes, só coloco um comentário e sigo em frente. O trem desgovernado e a escrita não podem parar!
Quais os seus planos para o futuro, no ramo literário?
No momento estou 95% focado em terminar O Homem Vazio, que lanço no fim de 2018. A primeira versão deve estar indo para a mão dos betas muito em breve. Meu próximo objetivo é publicar um livro por editora tradicional e aumentar minha base de leitores. O podcast está me ajudando bastante nessa empreitada, pois no ano passado tive contato com muitos ouvintes e leitores.