Os transgênicos não combatem a fome

Por Viviane Sobral e Clóvis Roberto Zimmermann.

Biotecnologia e transgênicos podem ajudar o Brasil a erradicar a fome“,
afirmou Harvey Glick diretor da Monsanto.
Nós queremos combater a fome em nosso país.
Acho que seria moralmente indefensável ficar contra uma iniciativa desse porte

Govindarajan Padmanaban bioquímico do instituto indiano de ciência
em defesa do uso dos transgênicos no comate à fome (revista Veja)

Os defensores das culturas agrícolas transgênicas argumentam que esse tipo de organismo poderia ser uma importante via de combate da fome. Em certo sentido o melhoramento genético possibilitaria o aumento da produtividade e da resistência das plantas às pragas e às condições climáticas adversas. A priori é agradável pensar que pessoas que vivem em condições climáticas adversas possam prover seu próprio sustento, já que foi desenvolvida uma semente que se adapta melhor às condições climáticas que lhe são específicas.

Contudo, ocorre que os custos que envolvem o desenvolvimento desse tipo de pesquisa são altos demais, sendo que atualmente as empresas multinacionais são as principais responsáveis pelo desenvolvimento de pesquisa e patentes. Assim sendo, a aquisição de sementes melhoradas envolve um alto custo financeiro, um custo que pequenos produtores e pessoas que vivem em condições adversas não podem pagar. Neste contexto é válido ressaltar que os pequenos produtores, os principais responsáveis pelo abastecimento do mercado de alimentos para consumo humano (responsáveis por 70% dos alimentos consumidos no Brasil, são os mais afastados dos OGMs – organismos geneticamente modificados), uma vez que não terão condições de adquirir tais sementes.

Outro ponto fundamental nesta discussão está centrado na visão equivocada que se tem da problemática da fome. As pessoas que veem os transgênicos como ferramenta de combate à fome acreditam que a fome está ligada única e exclusivamente à produtividade de alimentos, já que está seria insuficiente para atender à demanda mundial. Todavia, segundo dados oficiais da FAO, se houvesse uma correta e igualitária distribuição de alimentos cada ser humano teria disponível para si 2.800 calorias diárias, valor superior à quantidade de calorias mínimas necessárias para a sobrevivência humana que é de 1900 calorias. Ou seja, o argumento da escassez de alimentos em nível mundial é uma grande falácia, carecendo de evidências e base empírica.

Em virtude disso podemos concluir que o maior problema da fome não é a escassez de alimentos, mas sim a sua má distribuição, tantos em termos de recursos físicos como econômicos (terra, renda, meios de produção etc.) que viabilizam o acesso ao direito à alimentação. Segundo a ONU, “o direito à alimentação adequada realiza-se quando cada homem, mulher e criança, sozinho ou em companhia de outros, tem acesso físico e econômico, ininterruptamente, à alimentação adequada ou aos meios para sua obtenção”.

No debate atual persiste todo um discurso que se utiliza de argumentos científicos para justificar a defesa do uso ‘moral’/ético dos transgênicos. Esse discurso, que coloca a biotecnologia como chave da resolução do problema da fome e subnutrição, defende que essa tecnologia proporcionaria uma maior produtividade, sem que para isso fosse necessário aumentar a área plantada. Contudo, críticos e contrários ao uso de transgênicos argumentam que com o avanço de lavouras transgênicas também haveria um crescimento da demanda por terras. Isso aconteceria, pois os agricultores precisariam aumentar sua área de plantio para arcar com os custos da aquisição de sementes e demais insumos, agora muito mais caros. Por sua vez, o aumento na demanda faria das terras um bem cada vez mais disputado, caro e distante dos pequenos produtores. Nessa conjuntura, os alimentos se tornariam um produto mais caro e escasso no mercado interno, e, portanto, mais distante da população carente e dos camponeses, que desprovidos de suas terras não poderiam prover sequer a própria alimentação.

Assim sendo, pode-se perceber que a discussão sobre o uso de transgênicos no combate à fome possui um caráter muito mais político e ideológico do que cientifico. Utiliza-se, contudo, argumentos científicos para tentar legitimar o uso de transgênicos. Por traz de argumentos científicos estão empresas multinacionais querendo ampliar seu lucros, tornando os agricultores cada mais dependentes. A fome torna-se assim um argumento para legitimar uma prática que tem por finalidade nada mais nada menos do que aumentar os lucros de empresas transnacionais. O fato é que os transgênicos até agora em nada ajudaram no combate à fome e na garantia do direito à alimentação.

Fonte: http://www.adital.com.br

Imagem: http://www.opiniaosustentavel.com.br

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