O título adaptado não é motivo para o espectador boicotar o filme, mas há os que torcem o nariz ou julgam mal a adaptação. Há que fazer justiça aos responsáveis pelas adaptações. São humanos e também erram. Não é que sejam fãs ardilosos dos filmes que passam por suas mãos. A grande intenção por trás da mudança é adaptar à linguagem local, e os motivos são tanto semânticos como culturais.
Alguns filmes recebem nomes diferentes em países de mesma língua, como por exemplo Brasil e Portugal. Entre esses dois países as diferenças culturais são inevitáveis, dada a imensidão de oceano que os afasta. O nome original (quando não de língua portuguesa), se traduzido literalmente pode soar muitas vezes sem sentido ou até mesmo ridículo.
A obra prima de Francis Ford Coppola, The Godfather, entrou no Brasil como O Poderoso Chefão. Em Portugal se chama O Padrinho. Para a máfia, “padrinho” significa um elo, um contrato de cavalheiros. No Brasil existe uma outra cultura sobre seu significado, e com certeza um filme com o nome O Padrinho teria um peso muito diferente na escolha do público brasileiro. A alternativa deu certo e Coppola sagrou-se mestre em mais um país.
É verdade que nos últimos anos os títulos têm sido mais bem adaptados, sofrendo apenas algumas alterações em prol da aproximação das línguas, fruto da globalização. Em tempos mais antigos houve títulos com interessantes adaptações que merecem atenção. O filme Vertigo (1958), clássico de Alfred Hitchcock, em Portugal se chama A Mulher que Viveu Duas Vezes; no Brasil, Um Corpo que Cai. Ambas as adaptações poderiam ter sido mais humildes, mas não foram e arriscaram contar muito da história. Outro de Hitchcock, Rope (1948), em Portugal é A Corda; no Brasil, Festim Diabólico. Os lusitanos honraram o original, já os brasileiros seguiram um caminho completamente novo, com sucesso.
Algumas adaptações são boas o bastante para se equiparar ao original, ou até mesmo superá-lo: Mystic River (2001), o ótimo drama de Clint Eastwood, no Brasil é Sobre Meninos e Lobos; The Big Country (1958) e Shane (1953), dois clássicos do western, são, respectivamente, Da Terra Nascem os Homens e Os Brutos Também Amam. Títulos metafísicos e dramáticos, bastante aprofundados no sentido das histórias.
Outro caso é a opção por manter o nome original e mesmo assim não ser bem visto, prova de que nem só de mudança vive o cinema tipo exportação. The Girl with Dragon Tattoo, bestseller do sueco Stieg Larsson, foi adaptado duas vezes para o cinema (2009 e 2011). No Brasil se chama Os Homens que Não Amavam as Mulheres; em Portugal, Os Homens que Odeiam as Mulheres. Ao invés de perguntar “por que inventaram um título tão diferente para o português?” talvez fosse melhor pesquisar a origem e chegar ao título em sueco: Män Som Hatar Kvinnor (“Homens que odeiam mulheres”, em tradução direta). Os adaptadores ainda possuem crédito em seu mercado poliglota.
Fonte: Obvious.