Por Arnold Antonin Moise Camille.*
Nós, cineastas, artistas, homens e mulheres da cultura de Haiti e do mundo, somos particularmente sensíveis aos sofrimentos de nossos irmãos em qualquer latitude onde estiverem.
A decisão 168-14 adotada pela Corte Constitucional da República Dominicana, privando da sua nacionalidade a todos os cidadãos dominicanos de origem haitiana nascidos após 1929, interpela nossa consciência e nos obriga a elevar nossa voz contra esta medida de consequências incalculáveis para 300.000 cidadãos dominicanos de raça negra.
Efetivemante, o que poderia parecer um ato de insânia de tempos passados, acaba de realizar-se em violação à Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estipula em seu artigo 15 que todo indivíduo tem direito a uma nacionalidade e que ninguém pode ser privado dela.
Este ato da Corte Constitucional nos lembra das medidas que precederam ao genocídio em 1937 de 30.000 haitianos perpetrado pelo ditador fascista Rafael Leonidas Trujillo, êmulo de Hitler. E mais recentemente poderia se parecer ao genocídio ruandês que foi precedido por um clima similar ao que certos setores racistas e xenófobos querem criar na República Dominicana.
Os haitianos e os democratas do mundo inteiro não podem senão condenar uma medida tão perigosa exigindo ao mesmo tempo sua anulação pela Corte Constitucional dominicana.
Pedimos a todas as organizações anti-racistas, anti-apartheid e de defesa dos direitos humanos, assim como a todas as instâncias democráticas do mundo, elevar suas vozes para condenar esta medida exigindo a sua anulação imediata ou o boicote de produtos dominicanos e do turismo nesse país que nenhum democrata e anti-racista deveria visitar em solidariedade com esses cidadãos dominicanos ameaçados de desterro por sua origem racial.
* Diretor do Centro Petion-Bolívar Président e conselheiro da Associação Haitiana de Cineastas (AHC).
Foto: Listín Diario.
Tradução: América Latina Palavra Viva.
Fonte: http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-232136-2013-10-26.html