Por Douglas Nascimento.
Abolida em 1888 e considerada uma das grandes contribuições para a queda do Império do Brasil no ano seguinte, a escravidão foi o fato mais obscuro da história do Brasil onde índios e, principalmente, negros eram tratados como animais e sem qualquer direito civil. Pessoas compravam, emprestavam e até alugavam escravos, em uma atividade que movimentava a economia brasileira no século 19.
Mas como eram feitos os negócios com escravos aqui na cidade de São Paulo? Como se sabia quem vende, quem compra ou quem aluga? Como se reportava a fuga de escravos, que cansados de sofrimento tentavam desaparecer da frente de seus proprietários? Através de anúncios de jornal.
Fizemos uma seleção de 14 anúncios relacionados a escravos do jornal Correio Paulistano que foram veiculados entre os anos de 1857 e 1879. Considerados normais e corriqueiros naqueles tempos, os anúncios hoje causam repulsa e indignação, confira:
Anúncios de aluguel:
Havia muitos proprietários que possuíam número excessivo de escravos. Estes publicavam anúncios de aluguel nos jornais, para que interessados pudessem aluga-los por um determinado período. Também era comum que pessoas interessadas em alugar publicassem anúncios pedindo escravos, como mostram os dois anúncios abaixo.
Anúncios de compra:
Quem estava interessado em comprar um escravo também deixava seu anúncio no jornal. Como mostra este anúncio de 8 de fevereiro de 1879.
Anúncios de fuga de escravos:
Mais comuns eram os anúncios de alerta de fugas de escravos. Na segunda metade do século 19, as fugas de escravos tornaram-se mais frequentes e os anúncios eram a maneira mais eficaz para tentar recuperar um fugitivo. Note nos anúncios a descrição das características do escravo, para facilitar a identificação dos mesmos.
Anúncios de venda:
A seguir, uma seleção de anúncios de pessoas interessadas em vender seus escravos.
Abuso e violência:
Por fim, não um anúncio mas um raro relato de viajante, publicado no mesmo Correio Paulistano, em 16 de setembro de 1857, onde o anônimo relata um absurdo caso de violência contra uma escrava na cidade de Bragança Paulista. Trata-se de um ultrajante caso de agressão contra uma pessoa que, uma vez na condição de escravo, não podia fazer nada para se defender, pois se o fizesse poderia até morrer.
Estes anúncios não podem ser esquecidos, pelo contrário. São provas documentais de um passado triste da história do Brasil, cicatrizes em nossa trajetória que ainda irão demorar muitos anos para serem curadas.
—