Não disponho de informações que me permitam contestar ou confirmar o que aí comenta meu amigo e correspondente Carlos Sanches, e agradeceria aos relacionados com o tema que o fizessem.
Ainda na semana passada distribuí o link para matéria da Marilza De Melo Foucher criticando o novo Código Florestal Brasileiro e de companheiros de fato preocupados com a situação ambiental no país, tenho recebido diversas análises críticas ao governo do PT no que se refere a estas questões. Mesmo assim, não querendo imitar oportunistas e histéricos que exploram o assunto repetindo o que apenas conhecem de orelhada, evito adentrar área a mim tão arisca pelo meu pouco conhecimento quanto por envolver especulações de todos os lados da questão.
No entanto, dada a perceptível seriedade dos comentários ou do caráter de muitos desses companheiros e comentaristas, o assunto têm efetivamente me preocupado, embora minha improficiência continue impossibilitando que conjecture uma opinião pessoal digna de ser divulgada.
Distribuo essa agora — que também não é minha, mas do Carlos, — não apenas por compartilhá-la e nem só para estimular os companheiros do MST ou de demais organismos e entidades relativas a discutirem o que é indicado e deve atentar também aos não relacionados a entidade alguma, sejam efetivamente conhecedores da questão agrária ou não. Distribuo as ponderações do Carlos também porque após tantos anos de militância, é uma das poucas críticas aos governos Lula/Dilma pautada pela coerência e honestidade de propósito que leio.
Nunca tive dúvidas de que num país de tão profundos problemas, de tantos poderosos interesses historicamente contrários a quaisquer medidas de resgatá-lo do esvaimento, por melhor intencionado impossível um governo exato e perfeito em todas as áreas. Acredito mesmo que o que se têm feito desde 2003 é um encaminhamento em benefício da maioria da população dos tantos desvios que antes privilegiavam reduzidos setores das elites econômicas. E considero ilusório o romantismo daqueles que acreditam viável a simples extinção desses interesses por meros decretos ou até por determinações revolucionárias. Não temos no comando do nosso exército o mesmo caráter dos soldados da Venezuela, tampouco em nosso povo a mesma disposição dos de Sierra Maestra ou dos vietcongs. Esse tipo de exigência me parece falta de noção e percepção dos que deliram em Lula e Dilma o poder de nacionalizar ou extinguir todos os interesses contrários à nação brasileira. Ainda mais, reconheço nessas exigências muita semelhança com os que advertem que Lula e Dilma sejam versões brasileiras do Hugo Chávez ou do Fidel Castro. Infelizmente, não poderiam ser, pois não há condições no Brasil para um Chávez ou Fidel. Menos ainda para um Guevara, por mais que se o admire.
Mas há um discurso herdado do getulismo e alimentado por Brizola que precisa ser resgatado em todas as discussões políticas e valorizado como argumento contrário a cada uma das tantas críticas incoerentes e desonestas que se tece contra os governos Lula/Dilma e que também servir como base para críticas construtivas e colaborativas da evolução do governo petista ou qualquer outro de cunho socialista. Na América Latina ou na África jamais se criará um estado realmente socialista sem diretrizes nacionalistas.
Ingênuos de ambos os lados igualmente se equivocam quanto a noção de nacionalismo e em muitos setores os governos Lula e Dilma demonstraram acertar os pontos nos “is”, protegendo a produção nacional sem impedir a participação estrangeira. Uma participação muitas vezes positiva e sobretudo necessária à uma nação que teve suas condições produtivas e seu conhecimento sucateado ou inviabilizado nas décadas que sucederam o dia 1º de abril de 1964. Afora tal realidade de nossa história, a universalização dos conhecimentos desenvolvidos pela humanidade nas últimas décadas tornam o fechamento de fronteiras comerciais um suicídio econômico e social em qualquer país do planeta.
Por outro lado, também impediram a evolução e desenvolvimento de nosso povo e país os anseios dos entreguistas que disponibilizaram nossos recursos ao capital estrangeiro, mentindo que por esse processo nos resgatariam da miséria humana promovida pelo neoliberalismo em todo o mundo. No Brasil, os principais representantes desses anseios sempre foram os entreguistas ligados ao que chamamos de elites econômicas. Em verdade, os dessa elite não passam de vassalos dos especuladores internacionais. O poder que aqui exercem, com todos os históricos prejuízos ao país, é mero reflexo de poderes internacionais a eles infinitamente superiores.
E esses rebotalhos do capitalismo global tem se feito representar perante nós, o povo brasileiro, por capatazes de luxo ou leões de chácara. Um exemplo do exercício da primeira fusão foi o do governo FHC. Da segunda, os milicanalhas impostos pela ditadura.
Cada um a seu estilo, mais ou menos proficientes em suas funções de lesadores de seus conterrâneos e patrícios, desde 1964 esses gigolôs venderam aos estrangeiros os favores da mesma puta: a Pátria. E o que o governo Lula/Dilma têm feito desde 2003 é enfrentar os rufiões e cães de guarda que latem pela mídia ou pelos poderes legislativos e judiciário, para resgatar essa senhora do lenocínio a que foi condenada não pelos que compõe a escória que chamamos de elite econômica, mas por seus patrões estrangeiros que eles sequer conhecem, mas sabem que deles recebem parte do que nos é roubado.
Quando Cazuza cantava “quero ver quem paga para a gente ficar assim” e pedia “me deixa ser seu sócio”, é porque pressentia que se associados a nós, esses gigolôs até poderiam ganhar muito mais do que a eles é distribuído por esses patrões. Mas por definição todo gigolô é vagabundo e seus esforços se resumem ao que um deles gostava de indicar como “tro-ló-ló” e outro como “nhê-nhê-nhém”. Engraçado — se é que se pode ver alguma graça nesses lamentáveis personagens de nossa história – é que apesar de aliados se referiam um ao outro. Alguma vez já se ouviu mais trololós e nhenhenhéns do que até hoje esses dois proferem?
A classe média voyeurística, acostumada a se masturbar quando lhes é permitido entrever pelas frestas os estupros a que a Pátria é submetida, a princípio se aborreceu por ter perdido o direito de vez por outra passar a mão na bunda da puta, mas a medida que vêm se apercebendo do que havia de falho e falso nesse baixo hedonismo, já vai se tornando capaz de distinguir que se integra, com cada cidadão das demais classes consideradas subalternas, ao corpo violentado e prostituído que antes nunca conseguiu reconhecer como seu. Que é o corpo da pátria se não o conjunto de seus cidadãos?
Já que, enfim, vamos percebendo que a Pátria somos nós, mesmo chutando os cachorros que rosnam e avançam em quem nos resgata, também devemos cobrar as concessões dos governos Lula/Dilma, ainda que concedam em negociação ao nosso resgate. Talvez entreguem os anéis para não perder os dedos. mas os dedos somos nós e nos cabe gritar pela inadmissibilidade de concessões nocivas e comprometedoras ao nosso futuro como povo e Pátria livre, pois esses anéis são as riquezas que deixaremos de herança às nossas futuras gerações.
Nas urnas temos dado respostas inequívocas em prol do desmonte do canil do Poder Legislativo e nas eleições municipais do ano que findou, em meio a aplicação do maior 171 de nossa história, mijamos no focinho dos mastins do Judiciário elegendo, nas principais capitais e municípios do país, os que se comprometem ao combate de nossa violação.
Já há uma década vimos demonstrando que não mais nos comovem os ganidos da mídia. Por fim, com a falência e lapidar incapacidade da oposição partidária, o chamado 4º Poder acabou se transformando no produto que pretendia promover e hoje se constitui no único partido que ainda tenta fazer oposição aos governos Lula e Dilma. Oposição incoerente, desonesta, vergonhosa, mas com mais esforço nos trololós e nhenhenhéns, ainda que de idêntica ineficiência.
Também não devemos nos confundir acreditando que o PiG seja o dono do puteiro. Os do GAFE – Globo, Abril, Folha e O Estado de São Paulo são meras alcoviteiras a acobertar a frequência ao lupanar, mascarando patriarcas e matriarcas de alta linhagem, magistrados, acadêmicos, e outros falsos moralistas estupradores da Pátria.
A grande força agregadora de todos esses demais poderes estupradores do povo brasileiro sempre foi o Poder Agrário, desde os primeiros genocídios cometidos contra os índios. A eles, então, só se interpôs o Poder da Igreja Católica que em troca negociou e concedeu a escravatura dos povos africanos que ainda permanece como nossa maior vergonha histórica.
Foi o Poder Agrário liderado pelos cafeicultores das então províncias do Rio de Janeiro e São Paulo que compraram nossa independência para que Portugal pagasse a dívida contraída com a Inglaterra para o Império Britânico aplicar na espoliação de suas demais colônias pelo mundo, inclusive, no próprio Brasil. E também foram esses cafeicultores aliados aos usineiros do nordeste que promoveram a queda da Monarquia e, através do coronelismo, gerenciaram os interesses imperialistas distribuídos por todo o país e continente .
Através do voto de cabresto e dos currais eleitorais, o domínio do coronelato contra o povo brasileiro sempre foi exercido com o aval do Poder Judiciário, de quem sempre foram donos, a abalizar o imediato apoio das Forças Armadas como ocorreu no massacre de Canudos e do Caldeirão no nordeste, da Guerra do Contestado no sul e em diversos outros conflitos originados exatamente pela truculência e prepotência do Poder Agrário, conforme se viu ocorrer em Corumbiara e El Dourado dos Carajás.
Neste Poder Agrário, jamais identificado às aspirações brasileiras como nação, pátria, país ou povo; está a origem de todos os demais poderes dos estupradores e cafetões de cada um de nós.
Na cosmogonia de nossa cultura tão bem reproduzida por Mário de Andrade, o Poder Agrário é o Gigante Piaimã. Exegetas e críticos da obra, discutem a probidade do Macunaíma como arquétipo do povo brasileiro, mas seu contraponto é indiscutível. O mito indígena transposto para o capitalista Venceslau Pietro Pietra incorpora a percepção da consciência coletiva brasileira sobre a transferência do Poder Agrário das famílias quatrocentãs, dos das gemas e natas das sociedades regionais; para os interesses estrangeiros. Em todo o país a falência das elites agrárias se deu pela vagabundagem inerente aos gigolôs quando, tornada ilegal, o fim da escravatura marcou o início dessa falência e o começo do processo de incorporação das riquezas usurpadas ao país e seu povo pelos patrões internacionais dos coronéis. Se os primeiros nunca tiveram qualquer responsabilidade e identificação com o Brasil, a seus patrões pouco importa saber onde ficam desde que lhes chegue os rendimentos do que em suas colônias se produz.
E quanto mais o gigante cresce multinacionalmente, mais cresce sua ganância canibalesca.
Macunaímas ou não, nos cabe discutir a expansão do Gigante Piaimã pelo território e pelas consciências nacionais. E devemos cobrar dos governos que apoiamos a contensão desse Poder que nos devora desde o início de nossa história.
É preciso estar atento, pois são muitos os especuladores e oportunistas que manipulam e se utilizam de questões e situações ambientalistas e fundiárias com outras intenções em verdade nada louváveis. Diversos são os exemplos de ONGs que enriquecem promovendo a ilusão de cumprir ideais preservacionistas. Bastante clara nesse sentido é a hipocrisia da campanha produzida pela Rede Globo na tentativa de inviabilizar a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, alegando preocupações com povos contra os quais sempre se posicionou em defesa exclusiva de seus anunciantes multinacionais.
Mas devemos também estar atentos para a cooptação e abdução de lideranças que se apresentam como representantes de interesses sociais e, esdruxulamente, se aliam aos interesses das remanescentes e poderosas organizações políticas do coronelato. Organizações sempre de lesa Pátria, sempre anti-povo.
Não tenho motivos para desconfiar dos companheiros que tanto lamentam o mal parado novo Código Florestal Brasileiro e não sei se possível contestar o que aí é apontado pelo Carlos Sanches. Se o for, agradeço aos que me ofereçam argumentos para apresentar a esses companheiros, mas o que não posso e não podemos fazer é nos omitir perante o exposto que, com ou sem a razão do amigo, precisa ser avaliado, ponderado, e divulgado. Afinal, se Piaimã continuar crescendo seremos todos pertences da feijoada para aplacar a fome de sua voracidade insaciável.
Fonte: Picica.net.