Existem muitas formas de vingança, mas a mais eficiente é expor a verdade, que permite duas expressões, através de fatos e ironias. Os gregos antigos sabiam disto e por isso criaram a comédia para ridicularizar governos e outros do andar “de cima”. Se para os atores a sátira era a arma para o enfrentamento de desmandos, opressão, as gargalhadas e a catarse eram os escudos da plateia – o povo. De lá para cá não mudou a natureza do humor, que é a estratégia de quem precisa se defender e não tem os mesmos recursos dos governantes. Uma estratégia simples e barata, criatividade e um pedaço de papelão bastam para a desforra, como se viu nas manifestações recentes.
A exposição de fatos exige conhecimento e informação, o que não é pouca coisa, mas para a ironia é preciso mais: inteligência que resulta de um raciocínio rápido e mordaz. A frase “The economy, stupid!” criada pelo assessor de marketing de Bill Clinton derrotou seu adversário, George Bush (pai), em 1992, e originou variações do tipo “It’s………., stupid!” (a lista é do que está mal no país e até desabafos pessoais). E foi isso que milhares de brasileiros escancararam em seus cartazes, reivindicações que já se tornaram clichês de tão repetidas e nunca solucionadas, porém, a novidade está na forma de apresentação, conteúdo e coragem.
Em tudo isto muitos da imprensa focaram nos efeitos, protestos contra o preço do transporte urbano e que após se ampliaram num leque de exigências e vandalismo (o cavalo de batalha para desqualificar as manifestações…. se em acidentes de caminhões nas estradas é comum os saques das cargas, queriam o quê na turbulência urbana, produzida por grupos isolados e criminosos, que estes limpassem as ruas?), mas as causas, que são profundas e históricas, foram noticiadas medianamente.
Diante desta visão horizontal, uma espécie de entendimento médio das coisas, cuja percepção se dá pela linha dos olhos, seja por interesse ou pela tradição que segura a ousadia, não se viu manchetes como “Polícia de…………..espanca manifestantes” (escolha o nome do governador e coloque nos pontinhos). Também não será feita a cobrança forte e permanente para que os reclamos da população sejam atendidos, e para ontem, sem protelações. Afinal, quem é a sétima economia do mundo deve ter dinheiro, e se faltar, certamente tem crédito no exterior.
Nesta situação não é de espantar a imagem nada positiva de alguns meios jornalísticos. A interação entre eles e audiência é um jogo que deve ser cooperativo e isso significa produzir e divulgar a informação mais completa possível, mostrando mais as causas do que os efeitos (estes, qualquer um é capaz de apreender…. o “por que?” é a pergunta que produz o melhor jornalismo. Mais: é aqui que a imprensa se identifica com sua audiência). Quando isto não ocorre o jogo torna-se competitivo porque os motivos (sempre subjacentes) são sonegados, justamente os que decidem a informação jornalística de maior qualidade, e, de alguma forma, é percebido pela audiência. Em resposta, ela joga com os recursos que dispõe, piadas, deboches, sátiras, xingamentos, via redes sociais e em singelos cartazes. Seu entendimento das coisas é bem mais amplo do que a mera média.
* Hélio Ademar Schuch é professor aposentado da UFSC (Departamento de Jornalismo). Consultor para jornalismo e propaganda de alimentos (com ênfase em produtos de origem animal).
Fonte: http://www.coletiva.net/site/artigo_detalhe.php?idArtigo=2940